quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Entre tantos (des)caminhos

Nas entrelinhas do amor, deslizam-se palavras
Hora constituem versos, hora nossa história
Hora  há  prismas, noutra se embaralham rimas:
Metáforas desalinhadas desfilam pela memória

Desenham momentos vividos,
Repletos de silêncios e beijos
Esperam por outros sonhados
Repletos de volúpia e desejos

Entre a utopia e a bagagem
Vejo delinear-se travessia
Entre o medo e a coragem
Verbos sussurram poesia

Despejam-se sobre mim
Gotas de insônia, torrentes de flores
Pintam-se esperanças multicores
Gestos perdidos no espaço sem fim

Entreaberta a janela, respiro o sonho
Gosto de céu, cheiro de chuva, sabor de mel
Entrefechada a porta, vejo-te chegar e ir
Quase sempre sem demora o estar e o porvir

Ergo o olhar aos céus, felicidade em prece,
Já não mais  peço, por tudo agradeço
Deixo o beijo no abraço que enternece
Nada sou... Aqui... há muito mais que mereço!

domingo, 6 de dezembro de 2015

Mirante



Labirintos da alma intercruzam nossas histórias...
Olhar que me rouba a calma... Dejavu de memórias
Somos segredos aprisionados pelo tempo e pelas escolhas
Camuflamos a realidade em nuanças de sonhos dourados
Dedilhamos, perscrutamos, vivemos...
O gosto de céu em insghts de felicidade
Instantes breves, fugazes, singulares
Tanto sentir... muito querer...
Perdidos na eloquência do desejo
Já não me é suficiente a ausência
A boca além do beijo há que se ter
Medos se descortinam
Na inconstância me despejo
Nas brumas que se desmancham
Feito escombros de outrora
Vejo delinear-se o mosaico de agora
Cicatrizes costurando o passado no presente
Dentro-fora... aqui – além...
Quero tanto seguir em frente
Todavia ainda me embaraço
Esbarro no que há em minha mente
Nada está quieto em mim
A quietude não me contenta
Tudo em ebulição: metamorfose
Frágil feito lagarta                                      
Seria mais fácil no casulo me manter
Mas da mesmice estou farta
Gaiolas, grades, prisões já não podem me deter
Vislumbro a ponte do porvir
Quebro arestas, rompo grilhões...
Mergulho no abismo inefável do sentir
Asas aflantes de borboleta errante
Desdobram-me feito poeira de estrelas
Inconstante como o mar, a brisa ou o barco a velas
Quero antes meu porto, meu mirante:
Plenitude...

Amor... Amado... Amante!

domingo, 4 de outubro de 2015

Caixa vazia



Despido de preconceitos
Entrega-se sem máscaras
O eu poético esquece-se de seus preceitos
Verte desejos em palavras desconexas
Tantas vezes sem rimas ou métricas
Foca a essência: seu âmago
Insuficiente, inconsequente, inconveniente
Senta-se à beira do caos e revira a razão
Esgueiram-se as areias atemporais
Nelas impregnam-se os sonhos e a emoção
Secam-se os olhos de madrugada
A lua eleva a tempestade do coração
Marcas indeléveis ali (co)existem
Sopram os suspiros do porvir
Entreabrindo a caixa de Pandora
Vê-se o espelho de Oscar Wilde
Imagem disforme, dor sem hora
Quis tocar o céu e atirou-se ao mar revolto
Debulham surreais metáforas ignotas
Expiram perfumadas memórias
Gritos fantasmagóricos desvanecem
Embalados pela música de uma nova era
É preciso fechar a porta do ontem
Abrir a janela além-tempo
Ser rio a deslizar para o mar que impera
Vença a escuridão!
Ouça o clamor do vento:
Sal que tempera? Quimera? Quem dera?
Adridoce aroma comedido
Mosaico de espera destituído?
O eu poético lembrou-se do procedimento
Despido de medos ou anseios
Veste a imagem que lhe cabe
E faz adormecer em si mais uma poesia
Será fim?
Camufla sua agonia?
Magia em enigma...
Enfim...
Palavras,  palavras, palavras...
Quem sabe, agora, uma caixa vazia
Pronta a encher de versos  a sua travessia!

Perfumes da Memória


Onde estão perdidos os meus sonhos?
Aonde foram?
Para onde me levaram?
Pistas, índices, marcas, rastros...
Houve, um dia, alguém que pisou minha areia...
Mas veio o mar com sua força descomunal
E arrastou as fagulhas do pensamento...
Soprou todos os segredos ao vento...
Tão pouco restou...
Quase nada sobrou:
Fragmentos, cacos,
Escombros de cristais coloridos...
Reminiscências de encontros doridos
Toques inesquecíveis,
Carícias que afagaram a alma...
Não trouxeram suavidade,
Roubaram a paz,
Tiraram a calma.
Quebra-cabeça de ilusões surreais,
Abismos de um ser metamorfoseado em mim...
Desfazem paradigmas multifacetados,
(Re)Inventam a música e sua melodia,
Desdobram-se em notas, palavras: essência...
Transversalmente acorda os sentidos...
Travessia de palavras...
Percepções sensoriais que aguçam
O sacrossanto pecado de existir...
Sorvo o perfume afetivo,
São historias que duelam com a memória,
Fantasmas perdidos, esquecidos, sufocados...
Desalinho de contornos,
Impressionismo míope,
Tateiam-se as formas...
Não se contenta, nem conforma...
Busca que seduz, se transforma...
Debulham-se lágrimas...
Emoções em abertas chagas...
Suscetibilidade indolor,
Olhos vendados para o amor...
Ferem espinhos...
Sangra o coração...
Labirinto que conduz ao centro:
Abismo e cruz...
Música que toca
Perfume e luz!  

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Leia-me



- Leia-me! - Diz o poema que sou..
Seu tom imperativo revela insanidade fragmentada
Há uma busca implacável do desejo,
Uma urgência perturbadora que me despeja em palavras
E elas não se prendem a rimas, nem a regulamentos vários
As palavras despem-me
Desbravam-me as entranhas
Devoram-me por inteiro
É a infindável busca do sentir e do sentido
Do viver e do vivido
Do amar e do amado
Sons de palavras que ecoam
Gosto de palavras que engulo
Imagens de palavras que guardo
Todas elas me descrevem
Debulham-me em metáforas afónicas
Roucas e descabeladas pelo caos
Na desordem do sentimento mais ousado
Dá-me tudo e dá-se por inteiro
Despudoradamente
Êxtase: mergulho no abismo no poema
Que comigo faz-se face em sentido
Desalinha a respiração... Metamorfoseia a razão...
Dentro e fora: tempo-espaço indefinidos
Céu e mar fundem-se... contemplam-se...
Em mim... Em ti... Em nós!

domingo, 26 de julho de 2015

Meu Céu


Ah...o anjo torto descobriu que ainda pode voar,
Mas tolo ainda deseja abraçar-se a outro anjo
E que este seja tão torto quanto ele, ilusão?
Talvez, este abraço vem em ondas,  integra como o mar
Nem sempre está ao alcance dos olhos e do coração...

Ah...como é belo o reflexo deste luar!
Despeja sua luz prateada sem cansar o olhar...
Vem e deixa sobre a areia palavras perdidas pelo mar
Sombras esmaecidas, desfeitas pelo vento... no ar...
Dançam com as ondas no breve instante deste sonhar!

Algumas palavras ficaram presas em nós...
Encarceradas entre tabus e convenções...
Amarraram-se, impedindo de se desfazer os nós
Que acorrentaram almas e corações...
Ah... cortaram nossas asas e deixaram-nos sós.

Tudo... em nome desta tal de razão!
Que mal consegue soerguer-nos,
Que não alivia a agonia, nem a tensão...
Não abranda medos, nem os resquícios da paixão...
Apenas nos devolve ao claustro, à escuridão...

Vez ou outra essa vontade de viver
Insana, inerente, persistente, vem e implora:
Abraça agora o sonho de outrora!
E mesmo que a outra asa venha e vá embora...
Sente-se que esta é a hora do sonho acontecer...

Descerram-se as cortinas e venda-lhes os olhos:
Sorria, seja, sinta o toque divino em sua mão!
O céu está em nós, ao alcance desta emoção...
E nos conduz a tudo que seduz: entregue-se a luz!
Abra-se, voe, permita-se, finalmente, sair do chão!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Mosaico de cristais

A pedra lançada pelo coração feriu a alma imortal.
O que foi quebrado não se reconstitui, mas se transmuta...
Despedaça-nos e em cacos faz-nos adentrar o portal...
Mostra possibilidades imperceptíveis: conosco permuta!

Instantes mágicos: flores atemporais plasmadas na memória...
Deixaram em nós perfume único: fantasia ou mera alegoria?
Ah! Vai-se mais esta estação, cor e ilusão despudorada?
Devasta nuvens de sonhos, torna-os cinza, pó... nada!

Ficaram apenas espectros de poeira de estrelas...
Arrastados por ventos abrasadores: sabor de paixão
Matizes indolores sangram o coração em aquarelas
Metamorfosearão a tempestade instigada pela razão?

Esperanças de outono fenecem, arrefecem verdades...
Será tempo de partir ou apenas se parte o sentir?
Há dúvidas imperando sentidos subliminares...
Mudam-se as estações e com elas o porvir...

Sensitividade seletiva: sensores do que não se quer...
Discernimento de escolhas suscitadas
De consequências nem sempre desejadas
Afinal nem sempre se opta por tudo aquilo que vier...

Sombras alquebradas roubam os sonhos de outrora...
O aroma doce azedou o rio sob a ponte dos enigmas...
É tarde, cedo ou o agora dita a hora?
Não se pode desvendar o destino sem suscitar estigmas.

Fragmentos em mosaico: imagens desencontradas,
Cristais multicores pintam aqui dentro o que restou:
Passado, presente, futuro camuflam marcas escondidas...
Antagonizam sentimentos e eu não sei mais onde estou!?...

sábado, 4 de julho de 2015

Foz


O poema está vazio de rimas, mas repleto de amor...
Aqui as metáforas se (re)inventam
Vestem-se de sonhos, despem-se de sombras...
Nas areias que se despejam nas retinas
Desalojam-se sentimentos atemporais
Destravam-nos das mais lindas utopias
Revelam o que camuflam as máscaras:
Momentos intensos e efêmeros...
Quebram a barreira do tempo e do espaço:
O ontem vivido cravou-se na memória
Desejos que ultrapassam o incontrolável
Plasmaram-se na alma etérea: instantes mágicos
Que nos transportam ao mundo do insondável
Intercruzamento: integração de histórias
Através do abraço das ondas ainda se espera o imensurável
Inspirados pelo vento, colhem-se os segredos do tempo
São sussurros soprados, serpenteados pelos sonhos
Espalham-se sobre nós feito poeira de estrelas
Em busca do espelho que olha e não nos vê
Que nos impele ao encontro com si mesmo
Na face remota do outro que reflete
O que sempre tememos ver:
Quem é mesmo este ser
Que hora ou outra parece tanto nos conhecer?
É preciso transgredir regras rotas
Revirar a ampulheta... Viver e parar de sofrer
Abrir os olhos, sentir a chuva, seguir o rio, ser foz...
Mesmo que através de um mero conta gotas
 (Re) Aprender a tocar o céu que mora em nós!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Felicidade intercruzada


Intercruzamentos de histórias
Dedilham em nós memórias

Reacendem fagulhas perdidas
Faces de um porvir esmaecidas

Registram-se na digital da alma
Reflexos surreais da palma

Fetiches atemporais desmembrados
Revelam a ausência de ideais desgrenhados

Sem máscaras, de forma ainda mais sincera
Despeja-nos no vazio que em nós impera

Mesmo que ao outro se negue
Duela-se tudo que em nos se renegue

A mente doente afasta-nos do sonho dormente
Semente que não se vê, apenas se pressente

Engana-se aquele que foge do amor
Justificando-se com o seu descompasso de dor

Paradoxo: perfume e espinhos em flor
Não se sufoca a humana essência no desamor

A dor mente o que realmente se sente
Camufla nas dobras do tempo... desejo iminente

Nem demônios, nem anjos... nem santos, nem profanos
Insignes instantes mágicos tornam-nos humanos

Sorvem-se necessidades das raízes alquebradas
Projetam-se asas aflantes, flamejantes, amadas

Toca-se o poder do céu na terra
Vemo-nos pequenos, míseros aprendizes em guerra

Buscam-se explicações plausíveis
Para nos transmutarmos de papéis previsíveis

Desabitados de nós, vazios de valores
Perecemos... condenamo-nos aos dissabores

Urge alterar o tempo oportuno
Vencer o claustro noturno

Ver a luz,... ser vento vindouro, suave, destemido
De expectativas múltiplas desprovido

Repleto de sonhos: sorrisos, toques, sabores
Sentimento: aquarela de mistérios multicores

Piscar de olhos entre eternidades
Traz-nos de volta efemeridades

Gosto de estrela na mão
Suspiros de saudade no chão

Absolutamente entregues aos braços da felicidade
E a sua tão cruel clandestinidade


sábado, 23 de maio de 2015

Borboleta errante

A vida é um constante ir e vir...
De histórias e memórias – vividas e desejadas...
Constroem o que somos, mesmo que, vez ou outra,
Instigados por medos,
Roubados por falsas crenças,
Desmoronamo-nos...
Destituímo-nos de nós mesmos...
Dissipam-se nossas percepções...
Vamos nos perdendo...
Abandonando pelo caminho os sonhos de outrora...
Esvaziamos o coração
Na busca de uma bagagem mais leve...
Desintegramo-nos:
Deixamos nossa essência se esvair,
Esquecemos quão breve é nossa estadia...
Queremos apenas encurtar distâncias...
No entanto desconhecemos a medida:
O nosso tempo oportuno...
Vemo-nos insatisfeitos...
À beira do precipício...
Somos impelidos ao abismo... ao caos...
Diante do imutável, agonizam as esperanças...
Em crisálida nos fechamos:
À espera da metamorfose nos encontramos...
Duelam em nós: razão e emoção...
Desorientados, sem chão...
Sucumbimos a dor,
Suspiramos ao vento
Todas as formas de amor...
Cansados, esgotados, esfolados...
Pasmos pela letargia de uma luta vã,
Acovardamo-nos à sombra...
Mas tudo passa... tudo tem seu tempo...
O amor e a dor também...
Ah... um cheiro de flores
Repentinamente nos invade...
E descobrimos que o inverno
Cedeu lugar a mais uma primavera:
A cor, o frescor, o perfume...
Pairam sobre todas as coisas
Invadem e resplandecem sobre a escuridão...
Abrimos os olhos...
É um novo dia... uma nova aurora!
Enfim tudo se renova... dentro e fora de nós!
É preciso colar os cacos...
Rever metas... acreditar nas descobertas...
Haverá lágrimas e belezas singulares...
Espinhos e flores por todos os lugares...
O barulho da água a deslizar...
Lembra que o rio tem seu curso:
Sinuoso, suave, insistente...
Abrupto, tempestuoso, persistente...
Somos múltiplos: ser, perfil, espectro...
Às vezes presente... noutras ausente...
Veja... sinta... não é mais casulo...
Em cores mil, transmutou-se...
Numa alada borboleta errante!








terça-feira, 5 de maio de 2015

Quem sabe?


É madrugada...
Desejo não tem hora
Nem de vir... nem de ir embora...
Vem e nos arrebata...
Arrasta-nos pelo silêncio... pelo frio... pelo vazio...
Faz-nos perder o senso... torna-nos acrobata...
De sonhos, vontades... anseios de realidade...
Busca o nosso oposto na afinidade...
Subjaz marcas na desmedida fugacidade
Do tempo que não temos...
Sente-se o gesto, o gosto,  além da cor...
Vertendo, convertendo
Martírios, tormentos, ansiedade...
Ânsia que embarca: fetiche...
Sabor que impera: sensações...
A ausência que traz o insano sonho
Despido de medos... cicatrizes... marcas...
Vestido apenas de saudade...
Fragmentos tantos de um talvez..
Um agora sem hora: felicidade!
Memória do corpo...
Impregnada na alma...
Incorpora... implora...
O beijo do vento
Que foi abandonado ao léu...
Jaz enfim tessitura... urdidura única...
Num gosto místico de céu...
Deixado e arrancado na palma
Onde, em duelo, perdeu-se a calma
Resta somente um calafrio
Despejando-se
Despojando-se
Queria... pedia...
Um porto para abrigar um corpo?
Podia... faria...
Ancorar segredos desavisados de outrora
E incondicionalmente...
Sentir o proibido?
Viver o que precisava ser vencido:
Amar... o improvável... o infundado... o descabido
Quem sabe?

Ah... Quem sabe?.

domingo, 26 de abril de 2015

Moinhos de vento


À espera de um novo amanhecer
Mais uma vez adormecem sonhos...
O vento frio da madrugada novamente me toca:
Ser que se ergue depois de tantos tombos...
Dom Quixote fantasmagórico que luta com moinhos de vento...
Lâmina afiada que destila versos sem rima
Poesia que se dedilha, que sufoca
Que aprisiona a dor para libertar a alma...
A vida sem desejos esvazia-se...
Somos energia direcionada pelo que nos falta...
Queremos o que não temos,
Almejamos o que não somos...
Desejo sem amor
É desamor que se perde no vazio...
Nesta catarse de sombras,
A pena viaja pela folha em branco
Palavra a palavra
Atravessa despenhadeiros
Alça voos altaneiros...
Busca-se um porto para ancorar desejos:
Esqueçamo-nos da solidão,
Transformemos medos em poeira
Para abraçar a praia deserta
E seus versos escritos na areia!




quarta-feira, 15 de abril de 2015

Intempéries

Vertido de sonhos
O tempo se renova em nós...
Desfaz as amarras do passado,
Liberta-nos da mediocridade,
Da agonia que nos aprisiona
Enfadonhamente na rotina...
Reconfigura os fragmentos
Da alma tão cansada da dor...
Faz-nos ousar,
Ir além da nossa sombra,
Perceber nossas asas
E a nossa capacidade inefável de voar...
Enche-nos de esperanças,
Enfeita-nos de flores o coração
À espera de viver intensamente
E nos exaurirmos até a última gota...
Assim entreabrimos a janela
Para respirar o perfume,
Abraçar o vento,
Que, vez ou outra, sussurra-nos segredos...
Sopra fagulhas ignotas, quase extintas,
Reacende as possibilidades esmaecidas
Que abandonamos pelo caminho...
É preciso arriscar mais... sair do eixo...
Mesmo não se sentindo seguro...
Buscar novas direções,
Aprender a escolher
Sem medo de se machucar...
Ainda receosos, desejamos a luz...
Tocamos momentaneamente o céu
E tudo que se quer,
Neste instante único e mágico,
É deter essa coisa clandestina
Que se chama felicidade...
Ah... é verdade...
Não temos este poder...
Isto cabe apenas ao tempo,
Senhor que nos ensina a viver...
A compreender que querer, quase sempre,
Está tão longe de poder...
Mas é algo inerente...
Que nos impulsiona a persistir,
Instiga-nos a vencer as intempéries
Que se interpõem entre nossas vontades...
É preciso ultrapassar limites
E muitas regras transgredir...
Afinal, o horizonte ainda está nublado...
Confuso... difuso...
A tempestade não se dissipou totalmente...
O gosto de chuva ainda está em mim
Ah... confesso: amo a chuva!
Sem ela não há primavera...
Sem flor, a vida é cinza, sem perfume e cor...
Há desafios nos colocando na berlinda,
Porém muito há para se viver ainda...
Quisera... ser permitido a nós, meros mortais,
Tocar mais vezes este céu de estrelas!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Imprevisto


O olhar vagueava sobre as ondas
À espera de um sonho perdido
Desejava ardentemente um porto
Não aquele que aprisiona
Mas que permitisse por que voltar
A viagem parece mais curta
Quando há abrigo
A tempestade afogou as esperanças
Despojou todas as certezas
Sobraram o gosto de sal
E o cinza das horas frias
Mas tudo passa
E um novo dia trouxe o sol
E a sua luz despejava-se
Afastava sorrateiramente
A escuridão e a cegueira
A bonança a alma alegrava
Num novo devaneio que se delineava
Ainda disforme e abstrato
Engendrava-me o ser multifacetado
Paradigmas desconexos questionados
Desobedecia conceitos e tabus revirados
O horizonte se reconfigurava
Remodelava-se reiventava-se
A aquarela inacabada
Esperava uma nova expectativa de cores
Para compor-se inteira numa nova direção?!...

Possibilidades



A vida muitas vezes nos surpreende...
Esperamos demais...
Acreditamos demais...
Queremos demais...
E por isso nos decepcionamos além da conta...
O outro só pode nos dar
O que possui...
Nem mais nem menos...
Às vezes isso nos é insuficiente.
Estamos tão vazios de nós mesmos
Que precisamos que o outro nos complete...
Não nos percebemos inteiros...
Vemo-nos como metades
Incompletas e inacabadas...
E de fato nos perdemos...
Vivemos a frustração da insatisfação:
A expectativa depositada em outrem
É tão maior que nós mesmos.
No entanto, se nos permitirmos
Ver a face que se esconde além do espelho,
Perceberemos nossa inteireza...
Pararíamos de nos buscar no outro...
E poderíamos de fato nos surpreender
Com o que o outro pode nos presentear:
Cumplicidade...
Afinidade...
Sintonia...
Leveza...
Magia...
E de repente...
Poderemos então verdadeiramente viver...
Ver a vida seguindo seu curso
Como um rio em direção ao mar...
Talvez diferente do desejado
Mas dentro do que nos é possível, palpável...
Porque tudo o que temos é o Agora...
O Hoje... o Presente...
E todas as suas muitas, múltiplas, infindáveis...

Possibilidades...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Pedras e asas


Pedras íngremes
Feriram meus anseios...
Em agonia, deram-me medos...
Desencantei-me da vida,
Esgotei a voz
Que clamava, orava,
Chorava por mim...

Asas se abrem e se entrelaçam...
Nuances de um novo tempo
Aladas formas desfeitas
Dançam a noite toda comigo...
Enquanto, sem chão, abrigo
O sonho perdido...
Desencantado pelo destino...

Palavras: pedras e asas...
Pedras que ancoram
Fincam raízes...
Asas que me fazem voar....
Abarcar sonhos, cantar segredos,
Sentir o vento...
Sobre o precipício, desabar...

Ah ... quero-te aflantes
Em ti desprender-me...
Soltar o grito
Que engoli num gemido...
Quero o gosto de sal
Do mar, da chuva,
Do desvario, do adeus...


Tudo passa: molda sombras...
Renova... transmuta... transforma...
Revigoram-se esperanças
À beira do despenhadeiro
Abraço um novo eu...
Metamorfose em mim...
Sem fim...Enfim...