sábado, 19 de julho de 2014

Jardim de palavras


Menina de olhar desencantado
Ah... deixou seu sonho ser roubado!
Viu esfacelarem-se as flores: a primavera...
O rigor do inverno secou a seiva de sua vida
Congelou os ossos que a detinham de pé
Atirou-a aos estilhaços: (des)pedaços!
Na desesperança fria, ela sumiu...
Abraçou a fumaça de si mesma sem fé:
Espectro inumano... caminhava  de pés descalços,
Suspirava pelos (des)caminhos do tempo...
Ferida, de coração partido... desabitado de poesia
Buscava, quem sabe, um sopro do vento...
Mas no outono ainda imperava a vida sem magia.
Encantada com a lua, admirava as estrelas...
À espera da luz de uma nova quimera...
Queria ser novamente semente, pólen talvez...
E ver florido o jardim da alma
A exalar as metáforas mais lindas...
Sussurradas, dedilhadas, silenciadas...
Num devaneio em “Déjà  vu”
Um anjo de asas azuis
Deu-lhe uma caixinha de segredos
Para guardar lá no fundo do coração...
Ao abri-la, a poeira dos sonhos evaporou-se...
De olhos fechados ainda pode vê-las...
Com asas aflantes em centelhas flamejantes,
Deitando-se como céu sobre a terra...
Num ritual sacrossanto e profano,
Fertilizou-se com a água das despedidas...
Ressurgiu à luz do amanhecer
O amor: perfume sagrado das palavras sentidas! 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Confesso


Não há como esvaziar meus dias tão repletos de saudade:
Não se pode explicá-la ou afastá-la... Apenas senti-la...
Relances de outrora que invadem e duelam em mim...
Há uma presença constante nos meus sonhos...
Analogia profunda veste de ontem meu agora:
Enigmas utópicos difíceis de decifrar...
Meras tolices, pieguices... talvez...
Luz nestas mãos entrelaçadas
Tão surreal e lindo!
Confesso
Tudo é um sonho!
Sentir independe de razões...
Apenas existe, transborda em nós... 
A essência do amor é a própria razão...
Sem definições...  controles...  explicações...
Queria apenas poder afastar de mim esta saudade
Cravada nesta ausência que não se pode esquecer...
Como Pandora, abri meu baú e desencadeei memórias...
Ah... O que grita em mim... tão repleto de silêncios tantos:
Palavras, versos, sonhos, que ainda não se constituem fatos!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Mar

 
Há momentos que nos sentimos tão esgotados
Tão perdidos, tão secos...
Nossos olhos não conseguem mais chorar
Nossa alma cansada da dor
Necessita sentir algo novo
Urgentemente precisamos reaprender a sorrir...
Os sonhos nos foram roubados
E com eles levaram nossas ilusões
Sugaram nossas esperanças
E a secura dos dias insípidos
Leva junto até o gosto de chuva
Que eu tão delicadamente
Detinha em minh'alma...
A minha poesia tenta me reerguer:
É difícil me encontrar sob os escombros
Meus versos antes embebidos em mel
Transbordam sal...
Meu coração cansado
Olha o relógio e descobre
Que é tarde demais para sonhar...
Tudo parece apenas poeira
Sinto o peso dos anos jogados fora
O sabor acre que engoliu a doçura...
Desejo o perfume de outrora
Que me inebriava
E me fazia dançar à luz da lua...
Estou cercada de areia
Finaliza-se o crepúsculo das despedidas
E mesmo estando à beira do precipício
Busco o mar
O mar dos teus olhos
Que me ensinaram
Que nunca é tarde
Nunca é tarde para (a)mar!

terça-feira, 1 de julho de 2014

LER

Palavras têm som de Outono
Sabor de Primavera
Mesmo que dedilhadas
No frio entrecortante das despedidas
Ou no calor ardente da paixão

Tuas palavras transmutaram-me
Desencadearam lágrimas
Silenciaram-me e me emudeceram
Talvez sejam teus Transversos
Que te traduzem em dor

Palavras têm vida própria
Consomem e são consumidas
Descrevem a alma que somos
O desejo de ser mais
A vontade de alçar voo

Teus versos cobertos de azul
Transpiram-te anjo de asas leves
Despejam-te em espiral
Engolindo-me e me arrancando
Da secura inerte do meu agora

Palavras têm gosto de poesia
Transpõem sonhos
Levam-me e me arrastam
Diante delas transpasso sombras
E danço com elas noite adentro

Tua poesia transborda magia
E o duelo de palavras
Corporifica metáforas despenteadas
Escritor-leitor veste-despe de azul
A agonizante espera de um novo tempo

Palavras têm voz e corpo
Comungam-se almas em carne
Refletem a utopia do amor:
Ao te ler, por um instante, sinto te ter
Foste os olhos que me ensinaram a ver.