domingo, 29 de janeiro de 2023

 

EM FRENTE

 


Há momentos que como lagarta

Enclausuramo-nos em nossa dor:

Sentimo-nos desorientados, perdidos, inadequados...

Fora do contexto, não vemos nosso próprio valor!

 

E, mesmo sabendo que tudo passa...

Vemo-nos, estilhaçados, em cacos...

Despedaçados ante um espelho quebrado:

Emoções guardadas, aprisionadas em descompassos...

 

Ainda que tenhamos algum registro:

Um compromisso escrito ou irrestrito

E as histórias de nossas vidas nos interceptem...

Perdemo-nos nos (des)caminhos a que nossas vidas nos impelem

 

Encontramo-nos e aprendemos um com o outro a amar:

O sentimento nasceu, renasceu e nos faz amadurecer...

Mas as intempéries nos fizeram esmorecer

E como tantos nos esvaziamos e nos permitimos escravizar...

 

É preciso agora me afastar: seguir em frente...

Já quis demais ser escolhida livremente...

Mas, muitas vezes, outras são as escolhas

Agora me despeço dos meus sonhos e armadilhas...

 

Rompo os grilhões que me aprisionaram com asas aflantes...

O passado trouxe-me sensações e experiências: insights!

Estou pronta para enfim acordar:

Borboleta errante - pronta para voar!

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

 RODA DA FORTUNA

 


A vida é feita de ciclos: tudo começa e, um dia, acaba...

Estamos inseridos na Roda da Fortuna que gira constantemente

E nos faz ver e viver as perspectivas múltiplas de nossas experiências:

Muitas vezes, deixamos a vida seguir...

Inferimos que nossas interferências seriam medíocres,

Não impomos nossas vontades,

Seguimos o curso do rio, fazendo as curvas necessárias,

Ultrapassando as pedras que parecem estar sempre ali,

Mas tudo que vai, um dia, volta...

E, nas voltas desta Roda, vejo a face de uma mulher no espelho...

Atrás dela, há uma mão sobre seu ombro: sua ancestral lhe abraça...

À sua frente, sorrindo para as estrelas há uma menina sonhadora...

Ela está ali no meio da ponte: entre a anciã e a criança...

Ela é a própria ponte!

No colo do rio que desliza sob a ponte,

É possível ver, nas margens do tempo,

Muitas flores com perfumes e espinhos...

São sonhos espalhados pelo caminho...

Esperanças ainda lhe permitem respirar...

Até aqui ela se permitiu estar só,

Acompanhada apenas da sacerdotisa de outrora...

Mas seu coração de mulher continua pulsando e sorrindo para o amanhecer...

“- Estou pronta!” – ela diz para o futuro.

“– Estou pronta para amar de novo!”

 O inverno das despedidas cede lugar à primavera de um novo tempo...

Olho para trás e vejo uma mulher se despedindo de mim...

À minha frente, um raio de luz abre um túnel de flores...

Não sei o que me espera, mas eu preciso ir...

Estou cansada de permanecer sozinha na ponte entre o passado e o futuro...

A Roda gira lentamente e meus pés descalços sentem as folhas secas...

Sim, estou pronta para seguir em frente...

Agradeço ao passado, chegou a hora de desenhar meu futuro...

Estou em busca de mim mesma... Adiante... O sol está radiante!

 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

 

“EU SOU MEU PRÓPRIO LAR”

 


 

Vozes ancestrais em mim ecoam...

Ouço a voz da mulher que, ao redor da fogueira, dança...

Ela bate palmas e sorri para as borboletas que voam...

Ela também chora a violência que rouba seus sonhos de criança!

 

Ouço a voz da sacerdotisa que conhece ervas curativas e a sorte

Unindo em suas mãos o poder de cura de mãe e avó

Alivia dores do corpo e da alma: desata o nó...

Aprendeu a apreciar a vida e a aceitar a morte!

 

Ouço a voz da camponesa que colheu o que não plantou:

Aprendeu a cultivar a terra e a ouvir os segredos da natureza ...

Ao se harmonizar com ela, reconheceu sua magia transformadora

E por isso também foi julgada e condenada de forma devastadora!

 

Ouço a voz da rainha que sentia cheiro de flores ...

Enquanto predizia o futuro de dores

Não queria ver sofrer os que amava

E por isso como bruxa foi queimada viva!

 

Ouço a voz da menina frágil que acreditava em contos de fadas

Quis ser princesa, mas a voz da bruxa roubava-lhe a fantasia

Quis ser grande, mas foi nas delicadezas que fez a travessia:

Metamorfoseou-se em mulher através das palavras...

 

Ouço a voz das histórias que ouvi acordada...

Das mulheres que foram amarradas, amordaçadas, encarceradas,

Muitas aparentemente livres vivem com medo, cerceadas...

Outras nem percebem o tamanho ou o luxo da sua gaiola dourada!

 

Ouço a voz da mulher “triste, louca ou má”...

Que foi rotulada assim, por recusar seguir a tal receita cultural

De “ser bela, recatada e do lar”...

E mesmo em meio a tantas dores decidiu mudar...

 

Ouço um refrão que não me define:

Desatinada, louca, desvairada, pela estrada torta...

Desato todos os nós ancestrais...

Queimo o mapa e mudo minha rota!

 

Delineio para mim uma nova estrada

Reinventando a história ainda não contada

Sou a mulher que faz sua trajetória se transmutar

Afinal “eu sou meu próprio lar”!