domingo, 28 de agosto de 2016

Medida Exata

Ah, o amor que, vez ou outra, vem e me arrebata
Que inteira me (des)orienta e (des)conserta
Emocionalmente me devora e devasta
Deixa-me só, a esmo, nua, (des)coberta

Alma em cacos se revela
Os sonhos se (des)norteiam e  eu me perco de mim
Solidão me leva e me desvela
Dá-me asas que se abrem neste espaço do sem fim

Ínfima como grão de areia
Mergulho no inferno da existência
Busco a medida exata entre o suplício e a poesia
Já que o céu subjaz a essência

Escombros desmantelam-me em mosaico
Fagulhas, partes, metades que inteiras se precisam
Além da indumentária social ou do prosaico
Debruçam-se nos ombros que me abraçam

À espera de outro tempo
Quiçá uma nova história
Capítulos nos (per)passam a limpo
E descortinam sombras da memória

Ilusões, frustrações, tentações
Despedaçam todas as nossas certezas
Arranham as mais seguras convicções
Ao vento, atiram medos e dúvidas pela correnteza

O ser que se ergue das cinzas no ar
Acredita ainda nos sonhos do amor
Não este que se verteu em pó e dor
Mas outro que aplaca asperezas e de novo faz (a)mar!


domingo, 21 de agosto de 2016

A-COR-DAR


Por que abandonamos nossos sonhos pelo caminho?
Ah... os sonhos... quando crianças acreditamos em tudo: 
É possível até tocar as estrelas
Ou dançar num baile de contos de fadas
Mas, um dia, a gente cresce...
E,  pelo caminho, vão-se cacos (des)feitos de tempo

Por que nos despedimos de nós mesmos?
A cada desejo frustrado vamos nos deixando de lado
Priorizamos as necessidades
Esquecemos as vontades
Passamos a fazer parte desta máquina
Perdemos nossa melhor parte: nossa humanidade

Por que nos acovardamos diante do vazio?
Sem perceber, à medida que nos engavetamos
Vamos nos esvaziando de nós mesmos
Encolhemos a coragem dentro da caixa do medo
Deixando lá no fundo o que de melhor tivemos
O que de mais verdadeiro vivemos

Por que não plantamos, com amor, nossas raízes?
Achamos que as raízes sempre estarão lá
Que as flores sempre exalarão seu perfume
Será que há necessidade de amar ou de cuidar do ontem?
Basta-nos essa construção metódica,
Ainda que sejamos meros escravos dela?

Por que perdemos nossas asas?
Ensinaram-nos que temos de ser práticos
Ser alicerce do mundo em ascensão
É necessário seguir... progredir... sorrir...
Não... não há tempo pra falar, pra ouvir, pra sentir... 
"Ora, não há lugar para ti neste mundo de sombras"!

Por que sufocamos nossa essência?
Em nome dessa retidão ou desta mera ilusão
Desviamos de nossos desejos o pobre coração
Salientaram que não há espaço para sonhar
Apenas prosseguir na direção imposta...
Ah, basta! É preciso abrir a alma: a-cor-dar!