quinta-feira, 24 de maio de 2018

TESSITURA DA VIDA



A vida se tece no fio tênue da memória
E como Pandora ora trancafiamos segredos
Ora abrimos a caixa e os permitimos sair
Dentro, mora sonhos ingênuos
Para os quais escancaramos as portas do coração
Lá... Camuflamos a mesmice dos dias mornos
Lá... Fantasiamos... 
Entregamo-nos às brumas
Abraçamo-nos, longamente, à imagem intacta
E nem percebemos que lá fora...
O tempo dispara, 
Corre veloz e nos atropela...
E, de repente, vemos nossa alma estilhaçada...
Precisamos desesperadamente acreditar
Que ainda é possível transmutar a realidade...
Que ainda é possível acordar além da letargia
Ali... Desponta as asas da borboleta errante
Estavam presas à teia de Aracne
Que desenhava os sentidos roubados por outrora
É preciso cuidar do enlace
Do corpo que urge se sentir vivo
Da alma que deseja conhecer sua essência
Costuramos os momentos
Entrelaçados aos sonhos
Que se fazem nas entrelinhas
Mas ainda não sei onde estou
Qual é o bordado que tenho desenhado
No meu caminhar taciturno?
O tear enreda-me, arrasta-me, devasta-me
E de repente me olho do avesso
E percebo que ainda está inacabado
Este é meu lado certo
Revira-me: memória de história aleatória
Remendando a travessia de cicatrizes
Porque nem tudo está no lugar certo
E o avesso sou eu... solta, livre, torta...
Esperando, curiosa, ali, bem, à sua porta...