sábado, 23 de maio de 2015

Borboleta errante

A vida é um constante ir e vir...
De histórias e memórias – vividas e desejadas...
Constroem o que somos, mesmo que, vez ou outra,
Instigados por medos,
Roubados por falsas crenças,
Desmoronamo-nos...
Destituímo-nos de nós mesmos...
Dissipam-se nossas percepções...
Vamos nos perdendo...
Abandonando pelo caminho os sonhos de outrora...
Esvaziamos o coração
Na busca de uma bagagem mais leve...
Desintegramo-nos:
Deixamos nossa essência se esvair,
Esquecemos quão breve é nossa estadia...
Queremos apenas encurtar distâncias...
No entanto desconhecemos a medida:
O nosso tempo oportuno...
Vemo-nos insatisfeitos...
À beira do precipício...
Somos impelidos ao abismo... ao caos...
Diante do imutável, agonizam as esperanças...
Em crisálida nos fechamos:
À espera da metamorfose nos encontramos...
Duelam em nós: razão e emoção...
Desorientados, sem chão...
Sucumbimos a dor,
Suspiramos ao vento
Todas as formas de amor...
Cansados, esgotados, esfolados...
Pasmos pela letargia de uma luta vã,
Acovardamo-nos à sombra...
Mas tudo passa... tudo tem seu tempo...
O amor e a dor também...
Ah... um cheiro de flores
Repentinamente nos invade...
E descobrimos que o inverno
Cedeu lugar a mais uma primavera:
A cor, o frescor, o perfume...
Pairam sobre todas as coisas
Invadem e resplandecem sobre a escuridão...
Abrimos os olhos...
É um novo dia... uma nova aurora!
Enfim tudo se renova... dentro e fora de nós!
É preciso colar os cacos...
Rever metas... acreditar nas descobertas...
Haverá lágrimas e belezas singulares...
Espinhos e flores por todos os lugares...
O barulho da água a deslizar...
Lembra que o rio tem seu curso:
Sinuoso, suave, insistente...
Abrupto, tempestuoso, persistente...
Somos múltiplos: ser, perfil, espectro...
Às vezes presente... noutras ausente...
Veja... sinta... não é mais casulo...
Em cores mil, transmutou-se...
Numa alada borboleta errante!








terça-feira, 5 de maio de 2015

Quem sabe?


É madrugada...
Desejo não tem hora
Nem de vir... nem de ir embora...
Vem e nos arrebata...
Arrasta-nos pelo silêncio... pelo frio... pelo vazio...
Faz-nos perder o senso... torna-nos acrobata...
De sonhos, vontades... anseios de realidade...
Busca o nosso oposto na afinidade...
Subjaz marcas na desmedida fugacidade
Do tempo que não temos...
Sente-se o gesto, o gosto,  além da cor...
Vertendo, convertendo
Martírios, tormentos, ansiedade...
Ânsia que embarca: fetiche...
Sabor que impera: sensações...
A ausência que traz o insano sonho
Despido de medos... cicatrizes... marcas...
Vestido apenas de saudade...
Fragmentos tantos de um talvez..
Um agora sem hora: felicidade!
Memória do corpo...
Impregnada na alma...
Incorpora... implora...
O beijo do vento
Que foi abandonado ao léu...
Jaz enfim tessitura... urdidura única...
Num gosto místico de céu...
Deixado e arrancado na palma
Onde, em duelo, perdeu-se a calma
Resta somente um calafrio
Despejando-se
Despojando-se
Queria... pedia...
Um porto para abrigar um corpo?
Podia... faria...
Ancorar segredos desavisados de outrora
E incondicionalmente...
Sentir o proibido?
Viver o que precisava ser vencido:
Amar... o improvável... o infundado... o descabido
Quem sabe?

Ah... Quem sabe?.