terça-feira, 26 de março de 2013

Subterfúgio



Há momentos que somos
Roubados dos sonhos pela realidade
E ela quase sempre nos é cruel.
Sinto um gosto acre na boca...
A dor dilacera-me a alma...
Não vou, não quero perder a calma...
Meus sonhos deslizam por mim...
Despeço-me de um pedaço
É mais um caco enfim...
Atormenta-me as imagens...
Sufoca-me o silêncio...
E tudo que quero é escapar
Dos meus desejos
Do gosto dos seus beijos...
Queria um subterfúgio
Que me pudesse servir de degrau
Que não me deixasse desviar os olhos
Porque mesmo quando não se quer
Vê-se o que o coração já sabe...
Mentimos para nós mesmos...
Enganamos o coração,
Mas sentir apenas não nos basta...
É preciso viver...
Mais uma vez sobreviver...
Ultrapassar a desilusão...
Deixar que o sonho se esvaia...
Como espuma do mar na praia...

domingo, 24 de março de 2013

Jardim de Sonhos



Sempre me senti fora do contexto...
Já que escrevia um texto
Que limitava a alma desbravadora...

E eu...
Continha sentimentos...
Detinha ações, pensamentos...

Escamoteava medos...
Existia...
De fato, não vivia...

Dentro de mim...
Ressalta agora o que é diferente,
Pulsa no âmago emoção latente...

Diante de mim...
Pessoas fazem a diferença...
Neste mundo tão desigual...

Não querem acomodação, passividade...
Querem abrir caminhos...
Conquistar a realidade...

E eu, Meu Deus,
Mesmo ainda perdida,
Também quero...

Quero viver...
Sentir, encontrar...
Seja aonde for essa tal felicidade!

Dentro de mim...
Há desafios a vencer...
Fragmentos e cacos a tecer...

Olhares perscrutadores...
Sonhos devastadores...
Que me instigam...

Devoram-me..
Por inteiro
Arrebatam-me...

Arrancada da letargia...
Sinto a vida cálida em mim...
Vejo-me ávida pelo anseio, pela magia...

Como vinho ora doce, ora acre...
Sorvo-a...
Degusto-a...

Embriago-me na sede dos desejos...
Esperando a febre dos beijos...
Abrasar o corpo e aquecer a alma...

Caos de sensações...
Transbordando assim...
Faz emergir palavras sem fim...

Ressoa-me a voz do poeta...
Despertam-me versos, rimas...
E canções (des)feitas...

Tão próximo do sim...
Morrem enigmas...
Cravam-se perguntas em estigmas...

Ser diferente? Fazer a diferença?
A poesia transmuta pedaços de sonhos:
São rosas, espinhos, ervas daninhas no jardim?!...

segunda-feira, 18 de março de 2013

À Deriva





Fecho os olhos da realidade...
Entreabro as pálpebras do sonho...
Contemplo-te diante de mim:
Há uma névoa envolvendo-te,
Mas a silhueta única delineia-se,
Contorna-me em entrelaçamentos,
Envolve-me na teia dos teus braços...
Aos meus ouvidos ouço tua voz
E deixo-me entorpecer...
O tempo levou tanto de mim:
Tirou a luz dos teus olhos,
Quebrou em cacos meu espelho,
Mas tudo passa,
Tem seu tempo...
E no sonho tu vens me ver...
Entras sorrateiramente...
E invades a solidão da minh’alma...
Preenches de luz minha escuridão...
Despejam-te sobre minha cútis
Marcas indeléveis,
Cicatrizes imperceptíveis...
Transmuta-me a alma
Em alada borboleta...
Conduz-me  a um outro lugar
A um momento só nosso...
Perdido no tempo e no espeço...
Busco minha essência
Ou na ausência absoluta dela...
Esvazio-a inteira sobre ti,
Porque já não sou eu,
Mas outro de mim...
Tu és meu farol...
A luz que direciona o meu barco
À deriva...
Em meio às muitas tempestades
Dentro de mim...
No caos...
No vazio real
E também nos sonhos!