Ah...
perdoe-me...
Perdoe-me
porque minhas palavras já não cabem mais em mim...
E
transbordam poesia:
“Decifra-me
ou te devoro...”
Mergulhada
no enigma da esfinge, sigo perambulando pelo deserto taciturnamente...
É
um sonho? É uma miragem? Talvez seja apenas delírio...
“O
que tem de manhã quatro patas, à tarde tem duas e à noite tem três?”
Épido
respondeu que seria o ser humano, afinal ele engatinha quando criança, caminha
quando adulto e quando envelhece precisa de uma bengala...
Contudo,
nem tudo que nos devora é passível de
tradução ou pode ser, de fato, descrito em palavras:
Etimologicamente
“palavra” vem do latim “parabola” que a pediu emprestado ao grego “parabolé” –
que significa comparação...
Linguistas
completam que pode significar também aproximação, discurso alegórico, encontro,
baque, choque...
Talvez,
por isso, “parábola” possa se associar a tantas e variadas áreas como a seção
cônica da matemática ou, depois de ser atirada à lama da vulgaridade do latim –
que usa “verbum” na sua maneira culta, possa nos trazer à tona “parabla” tão presente
nos romances românticos.
Sem
dúvida, há muitas formas de falar sem nada dizer...
Há
tantas formas de fazer poesia sem nada escrever...
Há
muitas formas de se permitir e se perceber humano...
Sim,
há outras linguagens... muitas...
Diante
das palavras que se perdem no silêncio...
Visto-me
agora apenas com a seda tênue da poesia que delineia o portal dos sonhos e bate
desesperadamente à porta da razão:
Estou
no labirinto de Chartres, buscando decifrar enigmas e encontrar respostas...
Olho
em volta e não vejo nada...
Estou
à beira do abismo: gritos ecoam e retornam para mim...
É
apenas o som da minha própria voz em busca do descortinar do que foi ou do que
ficou perdido no tempo e no espaço...
Meus
medos desvaneceram, talvez tenham ficado presos ao formulário da moral e dos
bons costumes...
É
preciso se despedir da voz que dita regras e esquecer o que os outros podem ou
vão pensar de nós...
Aceito
o desafio de me ver decifrada, translúcida neste oráculo poético que tudo
mostra que tudo vê e nada diz
explicitamente...
Vou
me despedindo das dores e dos dissabores...
Estou
plenamente iluminada pela minha intensidade que ferozmente me atira ao
despenhadeiro das ilusões...
Já
estive no inferno e já toquei o céu diversas vezes, apenas por ser assim:
inteira e intensa...
Já
vivi delícias inimagináveis e já me debulhei inteira em lágrimas...
Hoje,
a mulher - que sou – não acata mais a
máscara da santa, “da bela, recata e do lar”...
Já
não espero mais o príncipe encantado vir me salvar, nem desejo estar presa ao
fatídico amor romântico, ou seja, não quero mais me aventurar numa relação
falida como o casamento, nem quero um relacionamento perfeito – porque nenhum
deles existe, são meras ilusões vendidas pelo mercado do patriarcado.
Hoje,
a mulher – que sou – se olhou no espelho e viu no seu reflexo um mapa: minhas linhas
de expressão espelham as cicatrizes que carrego na alma.
Mesmo
diante do caos dos afetos desfeitos, encontro-me na encruzilhada do desejo...
Confesso
que a mulher – que sou – não é de ferro...
Não
é perfeita, nem santa (nem quero sê-lo)...
Sou
de carne e osso... sou humana em demasia e em mim pulsa a febre do desejo...
Eu
quis silenciar, eu tentei ficar quieta às insignificâncias do ser que se quer
foi ouvido, mas o poeta em mim não me aceita submissa e me atormenta de
madrugada, batendo incessantemente à porta dos meus sonhos...
Sim,
a mulher – que sou – sonha e já sonhou tanto: algumas vezes sonhos lúcidos,
noutras vezes desperta e bem acordada...
Sim,
a mulher - que sou – sonha em diversos sentidos e com todos os meus sentidos:
visão, tato, olfato, audição e paladar...
Ela
sente e ela se sente...
Neste
sentido, meus sentidos aguçados pelo desejo sussurram palavras tantas vezes
silenciadas...
Muitas
vezes eu escamoteei meus desejos, escondendo-me no ritmo acelerado do dia a
dia, na falta de tempo e assim fazia-os adormecer, ou seja, esquecia o que me
faz verdadeiramente vibrar...
Às
vezes, uma voz ou um toque sutil desencadeia um fluxo intenso de energia que
despeja a inércia de um lago na fluidez de um rio que segue em turbilhão em
direção ao mar...
Tudo
isso destrancou a caixa de Pandora – onde guardei meus desejos ardentes – e agora
a mulher (que sou) pulsa de desejo, sente que está viva e, portanto, deseja
viver o calafrio que me percorre inteira.
Não
há culpa neste desejo, eu preferi, por tanto tempo, não ver e não sentir...
apenas seguir no anonimato das minhas próprias emoções...
Preciso
sair das sombras do silêncio e encontrar o meu desejo de viver e assim esquecer
o resto do mundo, apenas para me permitir sentir e deixar os sentidos que me
impelem seguir em frente depois de todas as tempestades...
Nem
tudo está ao meu alcance, nem sempre se pode fugir de tudo, dos padrões
pré-estabelecidos, das máscaras sociais e dos traumas do passado para encontrar
o oásis no meio do deserto da alma, contudo, vez ou outra, o poeta bate à minha
porta e me permite sonhar - tudo tem seu tempo e depois do sonho ( que pena!?!)
- é preciso A – COR- DAR!