sábado, 24 de novembro de 2012

Zéfiro



Eu não sou mais eu...
Sou outro de mim
Num espelho de sonhos...
Busco a cor dos meus olhos,
Mas vejo apenas os teus...
Emito palavras,
Mas é tua voz que ecoa em mim...
Procuro os cacos que sobraram,
Mas o mosaico desenhado revela
Perfumes nos estilhaços de mim...
Entreabro a janela,
Preciso respirar-te...
Encontro a saudade
Avassaladoramente dourada
Desenhando o sol de um novo dia...
Dedilhando o presente,
Recobrindo de cores a realidade vigente:
Estás nas palavras que escrevi na areia
Onde rabisquei segredos
Para que as ondas os decifrassem...
Levassem-nos de dentro de mim...
És saudade... Passado... Presente...
És o sopro de Zéfiro...
Conduzindo-me na dança da vida...
És anjo?
Não, és real e vives em mim!

 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Cataclismo



Uma luz doce e terna dança sob o olhar...
Vejo a face da saudade desenhada 
Pelas brumas do sonho...
Ouço o assobio do vento trazendo-me
O decifrar de enigmas transcendentais...
Sinto um arrepio a percorrer-me inteira...
É o desejo que me arrebata 
E arrasta meus pensamentos,
Afinal apenas a mente tem o poder 
De desprender ou deter as sensações...
Desenfreadas, elas alcançam os sonhos...
São delineadas de acordo com a luz do olhar...
Ganham cor, forma, sabor e cheiro...
E os sentidos atiçam os instintos...
Desencadeando um cataclismo de emoções...
Mera confluência de olhares...
Simples toque de mãos...
Capazes de despertar no âmago profundo
O degringolar voluptuoso do vento...
Era apenas uma brisa suave a agitar-me os cabelos,
Mas, repentinamente...
Tornou-se tempestade dentro de mim...
Vejo o tremular avassalador das folhas
Que são atiradas ao chão...
São pedaços de sonhos estilhaçados pelos sentidos...
Devorados pelo desejo inconstante de saciar
A febre que paira sobre o olhar...
Meus pés tocam o chão,
Mas meus dedos alcançam a lua...
Sou humana, mortal, pequena...
E ao mesmo tempo...
Sinto alçar voo as asas de anjo que me permitem
Mesmo que, num sonho dantesco, voar...

domingo, 18 de novembro de 2012

Oscilação



As cinzas do passado
São levadas pelo vento...
Sinto a brisa da despedida
Ditar o ritmo do tempo...

Muito ficou perdido
Entre brumas e sonhos...
É preciso reconstruir
O que foi partido...

Desenha-se diante de mim
Mosaico colorido...
Nele plasmou-se o efêmero
Da alma eterna e sem fim...

Sinto-me parte do universo,
Vejo asas sendo restituídas...
Um olhar do outro lado do espelho
Destitui-me de todas as máscaras...

Há uma janela ensolarada aberta
Revelando sonhos esquecidos...
Deixei-os guardados, trancafiados...
Agora... Espero apenas a hora certa...

Desejo sentir-me viva aos poucos...
Parte de mim deixou-se adormecer...
É preciso revirar os cacos...
Reconstruir o que sobrou do meu ser...

Quero dançar sob a lua e as estrelas...
Permitir-me tocar e ser tocada por elas...
Desvencilhar-me da dor e soltar os cabelos...
Oscilando devaneios, revelando segredos!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

(Entre)linhas e versos



Entre o curso do rio e a foz
Existe a água

Entre o sonho e a realidade
Existe a fantasia

Entre os pés e a sombra
Existe o corpo

Entre a paixão e o amor
Existe a atração

Entre os olhos e a pele
Existe o desejo

Entre os braços e as mãos
Existe um segredo

Entre o medo e a fé
Existe o desafio

Entre a voz e o silêncio
Existe a palavra

Entre linhas e versos
Existe a poesia
Sonhada

Metaforizada

Dedilhada

Sentida

Vivida

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Caixa de Pandora




Dentro de mim... ecoam vozes...
O passado delineia-se em brumas...
Há uma névoa que me impede de ver
O sonho perdido, em mim esquecido...
Fecho os olhos e sinto calafrios...
Sinto meu anjo de mãos dadas
Volitando comigo sobre o mar...
Há luz vestindo teu corpo...
Vertendo-se sobre mim
Teu olhar profundo revela segredos da alma:
São palavras tão esperadas, trancafiadas...
E, agora, aberta a caixa de Pandora
Vêm à luz...
Para que nos vejamos por inteiro...
Não apenas como homem e mulher,
Mas almas afins
Que se conheciam antes
E que se reconhecem no espelho do outro!