quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Borboleta

Versos amorfos pulsam em minh'alma
É preciso (trans)bordar palavras
Cravou-se no âmago
Lança que com fogo dança
Ah... A vida...  Vez ou outra...
Coloca-nos em xeque
Será mate ou arremate?
Vemo-nos (des)orientados...
(Des)iludidos... (Des)preparados...
A vida não permite ensaios:
É uma sequência de momentos inéditos.
O inesperado nos assalta...
Às vezes nos assombra...
Não há controle...
Não tenha pretensões: reme...
Mas, quando se está à deriva,
Deseja-se vislumbrar um farol...
Aprender a conduzir bem o leme
Seja em meio às tempestades...
Seja em mar calmo e dias de sol...
Ah... Essa maldita impetuosidade de poeta...
Que grita impropérios!
Busca... Clama... Chora...
Onde está o equilíbrio?
Razão?  Emoção?  Ambas?
Nada pode, de fato, ser planejado
Tudo, de repente, pode  ser transformado
Em um segundo... pode tudo mudar
Então em gotas (res)pingam palavras
Chovem... Choram... Respiram...
Despejo-me na poesia
Ah... Mas a página vazia não detém,
Nem contém meu vazio
Derramo-me e me espraio
Debulho-me... Transbordo-me...
E nos versos que dedilho...
Acaricio a alma que chora
E o caos que me devora
Enfim... Deixo-me metaforizar
Perco-me para me encontrar
E assim me deixo inteira na travessia
Desmorono-me em estilhaços
Vou me permitindo transmutar
Palavra disforme: metonímia a voar
Mergulho-me nestas entrelinhas
Não para me esconder,
Mas para me achar
Já não posso mais reconhecer:
Era lagarta... 
Agora... Sou Borboleta!

domingo, 23 de outubro de 2016

Sentido

Quando a vida em mim grita
Palavras ultrapassam o sentido
Desmedidamente tocam o vivido
Faz-se, enfim, poesia que suscita

O canto triste deu lugar à nova melodia
Ainda nos primeiros acordes
Já desmoronam desculpas torpes
Que construíam o castelo da fantasia

Quis fazer de conta
Que era suficiente, ainda que tonta
Não queria ver o que me afronta
Desfazer meus nós e de novo estar pronta

Diante do descabido abandono do sonho
Vejo delinear outro caminho
Ainda que tivesse, a esmo, num tropel medonho
Perdida, esquecida, à espera do bisonho

Há que se sentir o indubitável
O impensado, quiçá irremediável,
Torna descabido o desejo incontrolável
Que ficou lá no fundo... intocável

A razão desdobra-me em incógnitas
Mas a coração o dilúculo escancara
Pode-se até mesmo quebrar a cara
Ao abrir os olhos diante de emoções remotas

A vida, vez ou outra, nos surpreende
Impõe-nos regras e preceitos
Cabe a nós calar ou rever conceitos
Dedilhar o intangível que nos prende

Presente: momentos fugazes na trajetória
Enigma: ponta de iceberg que nos dá pistas
Daquele  que se constrói ao destruir sofistas
Insights singulares desenham em mim : nova história!



domingo, 16 de outubro de 2016

(Trans)bordar

A alma que sou não cabe cá dentro
(Des)dobra-se em versos desmedidos
Em sentimentos desmensurados
Sempre em busca do epicentro

Este desdobramento de emoções (des)conexas
Revira as areias da minha ampulheta
Rompe paradigmas, retira-me da gaveta
Desmoronam-se certezas côncavas e convexas

Há marcas que não podem ser apagadas
Em mim... Ainda latejam e gritam
Outras se fazem cicatrizadas e silenciam
Estão lá no fundo, no âmago, cravadas

A palavra é o espelho do sentido
O verso reflexo do vivido
As entrelinhas despejam o incontido
O imensurável desejo descomedido

Transborda em poesia
A vida que lapida a alma em travessia
Urdidura singular e divina: via que me desvia
Ousadia de sentir em demasia

Aquilo que silenciou o indubitável
Agora escancara o quão sou frágil assim
Ecos e gritos nos confins deste meu sem fim
Vejo o que sempre neguei... Ah... poeta miserável

Deste-me asas e me roubaste a utopia
Tenho a clarividência, a lança,
Mas minh’alma já não alcança
A luz que enfim me conduziria

A sentir ou ir a algum lugar além do abismo
Abriste as janelas do conhecimento
E, agora, já não ignoro o sofrimento
Saber arrasta-nos ao ostracismo

Por que me deste a (in)consciência poeta incansável?
Ainda colo os cacos da alma quebrada
Mosaico (des)configurado de voz alquebrada
Horizonte delineando o devir: és fugaz, poeta venerável!

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Anjo meu...



Meu olhar, um dia, cruzou o teu
E esse frenesi ainda me provoca arrepio
O que dizer do tempo que tivemos?
Do tempo que nos despejamos?
Do tempo que esperamos?

Que muito foi desejado
Que muito foi plantado
Muito foi dividido
Vivido
Muito mais sentido

Cumplicidade
Dualidade
Intensidade
Plenitude
Êxtase

Em teus braços fui tudo
Perdi tudo
Deixei tudo
Roubaste-me tudo
Deixaste o vazio

Esvaziei-me de palavras
Despejei-me na poesia... inteira
Esvai-me... inteira
Entreguei-me... inteira
Esqueci-me por inteiro

Deste-me o mel
Fizeste-me tocar as estrelas
Ah, anjo meu, foste o pecado e o perdão
Foste meu céu e meu inferno
Foste, um dia, sem se despedir

Rendo-te graças
Rogo aos anjos por ti
Que encontre a paz que nunca tive
Que vivas o amor que nunca pode ser meu
Que sejas inteiro em tudo que for teu!


domingo, 28 de agosto de 2016

Medida Exata

Ah, o amor que, vez ou outra, vem e me arrebata
Que inteira me (des)orienta e (des)conserta
Emocionalmente me devora e devasta
Deixa-me só, a esmo, nua, (des)coberta

Alma em cacos se revela
Os sonhos se (des)norteiam e  eu me perco de mim
Solidão me leva e me desvela
Dá-me asas que se abrem neste espaço do sem fim

Ínfima como grão de areia
Mergulho no inferno da existência
Busco a medida exata entre o suplício e a poesia
Já que o céu subjaz a essência

Escombros desmantelam-me em mosaico
Fagulhas, partes, metades que inteiras se precisam
Além da indumentária social ou do prosaico
Debruçam-se nos ombros que me abraçam

À espera de outro tempo
Quiçá uma nova história
Capítulos nos (per)passam a limpo
E descortinam sombras da memória

Ilusões, frustrações, tentações
Despedaçam todas as nossas certezas
Arranham as mais seguras convicções
Ao vento, atiram medos e dúvidas pela correnteza

O ser que se ergue das cinzas no ar
Acredita ainda nos sonhos do amor
Não este que se verteu em pó e dor
Mas outro que aplaca asperezas e de novo faz (a)mar!


domingo, 21 de agosto de 2016

A-COR-DAR


Por que abandonamos nossos sonhos pelo caminho?
Ah... os sonhos... quando crianças acreditamos em tudo: 
É possível até tocar as estrelas
Ou dançar num baile de contos de fadas
Mas, um dia, a gente cresce...
E,  pelo caminho, vão-se cacos (des)feitos de tempo

Por que nos despedimos de nós mesmos?
A cada desejo frustrado vamos nos deixando de lado
Priorizamos as necessidades
Esquecemos as vontades
Passamos a fazer parte desta máquina
Perdemos nossa melhor parte: nossa humanidade

Por que nos acovardamos diante do vazio?
Sem perceber, à medida que nos engavetamos
Vamos nos esvaziando de nós mesmos
Encolhemos a coragem dentro da caixa do medo
Deixando lá no fundo o que de melhor tivemos
O que de mais verdadeiro vivemos

Por que não plantamos, com amor, nossas raízes?
Achamos que as raízes sempre estarão lá
Que as flores sempre exalarão seu perfume
Será que há necessidade de amar ou de cuidar do ontem?
Basta-nos essa construção metódica,
Ainda que sejamos meros escravos dela?

Por que perdemos nossas asas?
Ensinaram-nos que temos de ser práticos
Ser alicerce do mundo em ascensão
É necessário seguir... progredir... sorrir...
Não... não há tempo pra falar, pra ouvir, pra sentir... 
"Ora, não há lugar para ti neste mundo de sombras"!

Por que sufocamos nossa essência?
Em nome dessa retidão ou desta mera ilusão
Desviamos de nossos desejos o pobre coração
Salientaram que não há espaço para sonhar
Apenas prosseguir na direção imposta...
Ah, basta! É preciso abrir a alma: a-cor-dar!

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Por que a vida faz assim?




Às vezes somos arrastados pela tempestade
Devastados pelo vazio inexorável
E vamos nos deixando pelo caminho
Abandonando o que de fato poderíamos ser

Meu olhar me despeja inteira no firmamento
É (im)possível tocar a mistura de cores do crepúsculo
Ah... tão perto... tão longe...
Tão intenso... tão torto...
Talvez horizonte ao alcance dos olhos
Mas infinitamente distante das mãos...

A poesia em mim se desdobra
Sem métrica ou rima
Encoberto pela escuridão da noite
Adormece o sol para dar lugar a lua
Que desfila majestosa ao lado das estrelas

Eu, poeta sem eira, nem beira,
Contemplo, sonho, viajo: tão perto... tão longe
Lua cheia: plena – vinho:  plenilúnios
Outra metáfora presente: fase novo – renova
Outra teoria, forma, tema, história: novo tempo!


domingo, 12 de junho de 2016

Poesia ao mar



Poesia rascunhada numa folha de papel qualquer
Alquebrada... Estilhada pela vida (des)medida
Encolhida pela frialdade da realidade que tanto se quer
A um canto insignificante de mim, fui esquecida

Cansada do vazio, vi-me só... imersa no frio
Só me restavam rastros, restos, migalhas
Perdidas à beira do abismo – num calafrio
Sem saber para onde ir – tolhida por tantas falhas

Despertar de sensações ignóbeis e insignificantes
Ative-me e me contentei  com tão pouco
Vi-me multifacetada, extirparam-me as asas aflantes
Despiram minha alma e o poeta ficou rouco

Sem versos que lhe trouxessem amor
Sem flores, que além de viço,
Transbordassem perfume e cor
Sem olhos que percebessem o feitiço

À deriva em pleno mar bravio
Sabia que haveria um instante remoto
E que um farol poderia guiar o meu navio
Ainda que meu destino fosse ignoto

Adormecia à espera de milagre e alegria
Mesmo morrendo lentamente na travessia
Lancei, de madrugada, garrafas ao mar
Com poesias - palavras precisavam viajar

Ao vaguear por águas menos turvas
Vi o reflexo de uma alma errante
Que se delineava no espelho ondulante
Ah... Quisera eu discernir contornos... curvas

Ah... se houvesse tempo para mergulhar
No mundo insondável e inexorável
E alçar voos... ir além do imponderável
E depois da tempestade, achar porto – acordar!

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Peter Pan




 "Leituras noturnas.
Noites infinitas.
Uma paz esclarecedora.
O som do silêncio.
Vultos de sombras,um parecer da lua.
Uma árvore abraça um menino.
Um menino abraça o escuro" (CAL)

Em busca da terra do nunca, uma sombra dança
Mistura o comum ao imortal
Debulha-se inteira e intensa na arte surreal
Longe, o sonho, nesta corda bamba, balança

Adentro na fantasia e sinto - também posso voar
Compor mosaico por alhures coloridos e perdidos
Despejar perfumes, sabores, cores e segredos
Dedilhar formas, contornos, palavras além do mar

Noturno, taciturno – espelha a lua no céu escuro
Utopia de infância – olhar soturno
Seu medo é um enigma diuturno
O degredo de um porto seguro

É preciso voltar a ser criança
E ser menino mesmo sendo homem
E , na caixa dos mistérios, achar a herança:
Raízes negadas,  subjugadas que consomem

Rodopia em voo o pássaro de asas perdidas
É um anjo torto, barroco, sacrossanto
Deixa nas mãos do menino razões esmaecidas
Prontas para silenciar a foz e o pranto

Dê-me sua mão... venha comigo...
Dance diante de si, com esta ilusão
Ouça o voz do coração
Seja além de homem, porto, abrigo...

Não tenha medo, esqueça o desespero
É outro tempo, hora de desbravar
Abrir os olhos e deixar a luz entrar
Venha, além de eterno tudo também se faz  efêmero!

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Ousadia


Ousei, um dia, te ver
Além dos limites do saber
Além, muito além do que os olhos podem ver

Ousei te tocar
Ah... tocar o âmago inviolável
Que trancafia sonhos e sombras no insondável


Ousei te ouvir
Ir além das palavras ditas
Além, muito além das dores esquecidas e das flores malditas

Ousei te sentir
Além dos limites do humano
Além, muito além do corpo, à beira do profano

Ousei te querer
Além do possível
Além, muito além dos limites, à beira do imponderável

Ousei ser livre
Ousei ser diverso
Ousei ser meu próprio inverso

Ousei não ser aceita
Não ser santa
Ser antes de tudo humana

Ousei sustentar a voz
Não me calar
Gritar ao mundo que é preciso se expressar: pensar

Ousei ser pequena
Insignificante
E me fazer inteira por um instante

Ousei me achar
E também me perder
Na sombra triste do teu olhar

Ousei ser....
Incomodei
Apenas porque, audaciosa mudei

Ousei tanto nesta melodia
Que me revirei na zona do teu  conforto
Feri e fui ferida pelo punhal cruel da ousadia

Ousadia de me deixar ir além
Além do próprio ser
E do humano me desprender

Ousadia de me permitir voar
Nas asas aflantes
Que ousei aos meus devaneios moldar

Perdoe-me... Perdoe-me a ousadia
De ser mulher, desdobrável
Ser flor e também espinho é razoável

Perdoe-me, menino de alma errante
Esqueci-me de que só podia ser minha essa ousadia
Que não poderia ter mais nada além de mim e da poesia

domingo, 1 de maio de 2016

Impressões Digitais


Num papel vazio de histórias
E na tela diante de mim
Delineiam-se formas
Debulham-se memórias

Nos matizes de uma nova cena
Desenham-se instantes singulares
Metamorfoseando-se o ontem
Sob esta lua cheia plena

Constelações em alinhamento
Anjos tortos abraçando-se
Asas para fazer dançar
Suplicam o encantamento

Realidade ou fantasia
Sentidos surpreendidos
Milhares de estrelas despejam-se
No céu e no chão: magia

Censuramos a libido
Julgamo-nos culpados do sentir
Desejos proibidos insistem em despir
A alma que escamoteia o urdido

Perfume e vinho... Corpos Inebriados 
Mera ilusão dançando sob o luar
Pura volúpia: é verdade, lá no céu, os astros
Se buscavam como nós (des) governados

Impressões digitais tateiam o meu vazio
Vertem-se em palavras sacrossantas
E em sonhos perdidos

Despejados, aqui, nesse instante tardio

sábado, 23 de abril de 2016

Autópsia


A vida é caixa de Pandora
Esperando para ser aberta...
Quem sabe ontem, amanhã, agora?

Fechada é mistério: segredo...
Faz-nos acovardar na letargia...
Aberta é desespero, medo: degredo...

Vez ou outra, curiosos, somos tomados...
Pela indiscrição, pela compulsão, pela vontade
Tocamos o insondável e sonhos roubados...

Diante do enigma:
“Decifra-me ou te devoro!”
Somos instigados a romper o paradigma...

Politicamente corretos
Deparamo-nos com o precipício
Mesmo que não nos vejamos certos

Diante de anjo torto que mais tenta que guarda
Sentimo-nos cada vez mais perto do céu
Tudo é caminho, travessia, vanguarda

Antes ... a surpresa e a urgência
Necessidades humanas espelham a imperfeição
Com sua inegável premência

Consumidos pelos desejos
Insights:  vontade e intensidade...
Ensejos  -  lua cheia no mar - beijos

Bocas escrevem poesia em corpos despertos
Marcas indeléveis:  lembranças... saudade...
Sinópsia? Parópsia? Autópsia de olhos bem abertos!


domingo, 3 de abril de 2016

Capitu


A liberdade para mim
Nasceu flor -  jasmim
Transmutou-se em borboleta
Deu-me asas por onde eu for

O tempo me roubou de mim
Não me contentava em ser menos
Desdobrava-me para ser mais
Nada me é suficiente assim

Recusei-me a ser Amélia
Para ser parte do todo feito tu
Despedi-me da plateia
Preferi ser Capitu

Olhos oblíquos e dissimilados
Exibem a coragem de se ver
Ver o que se prefere tanto esconder
Imagens de rostos desfigurados

Recusei-me a ser Amélia
Por que queria ainda mais
Não me saciava a mesmice
Que calei na meninice

Ah, preferi Capitu
Tonta de sonhos
Recoberta de sombras
Pronta para ser mais

Não sei se Capitu é mais
Se Amélia é menos
Mas quero antes a intensidade
Que da outra a sanidade

Quero o gosto de pecado
Tão perturbador
Nego a calmaria da vida morna
Atiro-me longe no arpoador

Ah... Amélia és tão sensata
Mas eu não sei sê-lo
Talvez seja mesmo louca feito Capitu
Que voa longe e inquieta feito borboleta