sexta-feira, 30 de julho de 2021

Perdão ao passado

 

Meu erro foi aprender a amar a quem nunca me amou

Foi me entregar absolutamente a este amor

Que me mata ora de overdose, ora de abstinência

Meu erro foi querer demais a quem pouco tinha para dar

O tempo escoa, as areias não voltarão à ampulheta

Perdão àqueles que magoei ou ofendi

Vez ou outra, a vida nos parte em mil pedaços para compreendermos a dor

Para nos ensinar o que, de fato, tem valor

Perdoo àqueles que amei e não souberam me amar

Talvez tenham dado tudo o que tinham

Mas a intensidade é exigente demais

Preciso pedir perdão por amar assim

Nunca me prometeu nada e eu nada pedi

Mas a ausência me consome, migalhas não me bastam

Pouco não me contenta...

Faz-me voltar atrás e revirar meus cacos

E, desta forma, perco o rumo

Tenho sentido o pôr-do-sol à frente, o ar seco e frio entorpece-me

Diante de mim, uma estrada de terra

Não vejo para onde estou indo... Mas sei... sinto que preciso ir...

A bagagem está pronta

O coração é que chora, porque o amor precisa muito ir embora...

Hora de escrever outra história mesmo empedernido pela dor

Vejo um rosto sorrindo no retrovisor

Que bom... talvez seja do meu amor

Perdão ao passado por ter amado demais

Agora é hora de me vestir de sonhos e aprender a gostar mais de mim

Meus erros foram muitos... Meu amor foi tanto

Muitas vezes me deixou extasiado, ébrio, tonto

Entretanto tudo muda, tudo vai... Tudo se transforma

Não culpo ninguém além de mim

Muitas escolhas tortas me desviaram da rota

Só, de pés descalços, piso à terra molhada

A lua, em vírgula, diz-me que a vida segue

As estelas despejam-se mais adiante

Em boa hora... ainda é tempo de viver... Prosseguir...

Embora eu não saiba, ainda, para onde ir...

Estou partindo, de coração partido

É preciso fechar o livro que nunca quis me ler

Mãos geladas dedilham palavras, pedaços de sonhos desfeitos

Entrego o passado à Pandora, não será esquecido...

É preciso aprender a conviver com as nossas cicatrizes

A ânsia de viver até a última gota desdobra-me, transborda-me, derrama-me

Adeus aos sonhos de outrora...

Ficaram registradas digitais de uma linda e longa história

Que sempre preferiu a arca da memória

O sol renascerá... Será outro dia...

Hora de seguir outra trajetória!


segunda-feira, 19 de julho de 2021

TRANSPOSIÇÃO SEMIÓTICA

 


Ando com uma fome de mim mesma

Precisando devorar o banquete de sensações

Há uma ânsia de viver

E cada palavra delineia o pulsar da vida

Transbordando o vinho que embriaga e encoraja

Vinho este que responde a todas as perguntas

Mesmo as que ainda não foram formuladas

Aspira-se por instantes mágicos

Que nos possibilitem transpor diversas linguagens

Que intercruzem necessidades, vontades, prioridades

E assim sorver, gota a gota, a liquidez das tempestades

Devorando os sentidos do sentir

Diante dos mistérios do porvir

Entregando-se à nossa imensa fragilidade

Permitindo-se exaurir nas chamas de nossa intensidade

(Trans)posição  de formas e palavras

Em cores, odores, toques e sabores

Degustar de sentidos singulares

Paladar seleto instigado pelas formas (semi)óticas

Que dedilham à flor da pele

Apuradas essências, líquidos, fluidos, excrescências

Transformando sombras em luz

Abraçando a humanidade que há em nós

E que outrora vivia na penúria

Mendigando compaixão e empatia

Transmutando o abstrato em concreto

Convertendo paixão em poesia

Transformando o cinza da mesmice

Em cores reluzentes

Metamorfoseando lagarta em crisálida

Crisálida em borboleta

Rastejar de desejos

Em voos de liberdade e sonhos

(Trans)posição de versos

(In)versos de mim

(Semi)ótica de imagens desconexas

Mosaico do sentir

Que me faz chorar e sorrir

Ferindo e machucando

O ego a se desconstruir

Debulho metáforas em ti

Para descortinar cicatrizes

Que se vertem em palavras

Perfilando reflexos no espelho do eu

Que vão além destes tempos sombrios

Transposição semiótica da nossa história atemporal

Que escrevemos juntos a cada dia sem igual

Quando abrimos os olhos

E deixamos nossos sonhos debaixo do travesseiro

E nos vestimos de sol para 

A – COR- DAR...