quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Talvez



Talvez...
Seja a saudade que veio, de novo, me abraçar
Ou será que é o vento que bateu à porta do coração?

Talvez...
Seja eu assobiando uma canção
Ou será o mar despejando seu lamento?

Talvez...
Seja a chuva batendo na janela
Ou será a lágrima da despedida?

Talvez...
Seja o desvario meu
Ou quem sabe um suspiro seu?

Talvez...
Seja o barulho da porta
Ou será que é a mente absorta?

Talvez...
Seja o pretexto do texto
Ou será uma metáfora perdida?

Talvez...
Seja o silêncio que o emudece
Ou serão minhas muitas palavras?

Talvez...
Seja a voz do poeta sussurrando versos
Ou será sua voz sondando segredos?

Talvez...
Seja sentimento perdido, escondido
Ou será apenas desejo em nós guardado?

Talvez...
Seja pedaço de um sonho de outrora
Ou será mesmo presente, agora?

Talvez...
Seja apenas sonho... meu,  quem sabe...
Ou será magia em expansão?

Talvez... talvez... talvez...
A vida é incerta:
Vivemos nos equilibrando entre as diferenças
Em busca de certezas que não temos
Sonhando...  delirando...
Acreditando que em algum lugar
Encontraremos o que verdadeiramente somos!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

"Deja vu"




Há momentos que o tempo é irrelevante...
Insights nos conduzem a esmo:
Retornamos ao passado ignoto...
Vislumbramos o futuro possível...
Vagamos pela memória inviolável...

Deixamo-nos conduzir...
Tememos ser inconvenientes...
Quem sabe inconsequentes,
Mas o que sentimos grita:
É preciso viver, amar, sorrir...

E por entre brumas e sonhos,
Duelamos espadas com o bom senso,
Fugimos dos nossos desejos,
Renegamos o que sentimos...
É preciso ser sensato...

Privamo-nos de nossos segredos...
É mais fácil camuflar loucuras...
Ocultar sentimentos profundos...
Sobrepondo máscaras...
Escamoteando o que somos...

Esgueiramo-nos do "deja vu"...
Afinal são apenas sonhos
Distantes da realidade...
Escondemos sensações e sentimentos...
Como se não fosse amor de verdade...

"Deja vu": sopra o vento...
As palavras destituem máscaras:
O amor derruba o pensamento...
O olhar toca a pele e as amarras...
Tudo se desfaz, se refaz sem tempo!

sábado, 26 de janeiro de 2013

A lua e o poeta



A lua cheia despeja sobre mim
Sua áurea de mistério...
Açoita-me a ausência,
Sinto o vento frio a bater na face
Tão repleto de história...

Ouço o poeta assobiando uma canção:
Triste, melancólica, velada...
Tão profunda quanto o sentimento...
Tão nossa, como as lembranças
Que me trazem matizes da paixão...

Não sei se o poeta canta ou (de) clama...
Sei que suas metáforas desfilam...
Dedilho-as, absorvo-as, sinto-as, sorvo-as...
Ah... o poeta e suas palavras:
Capazes muitas vezes de desnudar a alma...

Envolvem-me num abraço...
E neste laço de sintagmas e sentidos
Vejo o desvelar de sonhos...
Sinto o torpor da saudade
Embriagando-me de cansaço...

Sentimentos reduzidos ao vazio
Sem ver-te tornam-se névoa... desvanecem...
Transmutam-se... desejos esvaecem...
Deixam o poeta melancólico... meio ébrio...
Suas rimas tortas, sem perfume, desfalecem...

Ah... esta lua pelas nuvens encoberta..
Camufla dos olhos seus enigmas...
Assim como o poeta...
Sussurra ao vento seus poemas...
Cravados nos versos há estigmas...

Ah... poeta que deixou calar sua voz
Sua poesia ficou tanto tempo guardada
Quase sucumbiu em cacos desfeitos
E, agora, diante da lua prateada...
Desata os nós vividos em versos imperfeitos!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Vazio da Saudade



Palavra sem tradução,
Sentimento sem explicação,
Que toma conta do corpo
E também do coração..

A vida com sua urdidura única
Faz-nos parecer fantoches:
Esquecemos nosso livre arbítrio,
Acomodamo-nos à letargia...

O tempo nos escraviza...
Torna-nos zumbis de nós mesmos...
Deixamos nossa essência,
Nossos sonhos, na gaveta, trancafiados...

Até que uma reviravolta
Insulta nossa inteligência...
E nos arranca da zona de comodismo...
Deparamo-nos com o vazio da alma...

Vemo-nos perdidos...
Sem mapa e sem bússola...
Num mar de desencanto e desilusão...
Para o calabouço, somos arrastados...

Guardamos o que somos
Para camuflar o que esperam de nós...
Mas é chegada a hora da verdade:
Não se pode fugir... Desatam-se os nós...

Uma tempestade varre os cacos...
Devasta tudo o que sobrou...
Não fica pedra sobre pedra
Só me restou pedaços...

Em direção ao desconhecido,
Andanças direcionam mudanças...
Tudo se esvai...
Até mesmo minhas lágrimas...

Neste deserto de mim mesma,
Foi que te reencontrei...
Parte de minh'alma,
Saudade sem calma...

Sem merecer-te..
Reconheço-me em ti...
Vejo em teus olhos
Tudo que esqueci...

Quero-te sem dever... Sem poder...
Porque foi assim que Deus quis
Vivo na saudade que alimenta
O vazio que, um dia, eu mesma, fiz!