segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Amor em quarentena

 


É preciso despertar da letargia...

Não se contentar com o comodismo,

Nem se conformar com a cotidiana agonia...

Vivemos acorrentados às máscaras sociais...

E, como escravos de uma sociedade desigual,

Navegamos, desorientados, perdendo-nos na travessia...

No vazio fantasmagórico, exaurem-se nossas emoções e energia...

Esquecemos nossa humanidade, olvidamos nossa essência,

Contudo uma 3ª Guerra Mundial arquiteta mudanças:

Enclausurados em casa, fomos condenados ao confinamento...

A uma rotina repetitiva, exaustiva, desgastante...

Que nos afasta do mundo externo e da felicidade aparente,

Aprisionando-nos dentro da crisálida que somos...

E lá, nos confins desvanecidos da memória,

Encontramos aberta a caixa de Pandora...

No fundo, uma pena de prata e um papel vazio...

Vertidas em palavras delineiam-se nuanças de poesia...

Poeta desbravador, sem mapa ou bússola,

Insiste em adentrar “por mares nunca dantes navegados”...

Ainda que à deriva, despeja sobre nós a voz do coração...

Persiste, na alma, o clamor do sonho que nos desperta,

Ainda que nossa imagem perambule perdida pela rua deserta...

As metáforas abraçam-me, abarcando o clamor dos trovadores...

Querem respostas e eu só carrego perguntas:

O que é isto que chamam de amor?

O que estava dentro de mim e eu não via?

Como não percebia o que sentia?

Por que negar o que dá razão à nossa existência?

Onde estará este sentimento?

É possível estar só e guardar em mim todo o amor do mundo?

Como amar a quem não nos merece?

E nós, merecemos, de fato, todo amor que recebemos?

Ainda há expectativas nos corações que amam?

Amor real ou virtual?

Carnal ou platônico?

Escancarado ou escamoteado?

Hétero ou homossexual?

Toda forma de amor vale a pena?

Ah... sem dúvida, “tudo vale a pena se a alma não é pequena”...

Os gregos antigos reconheciam sete tipos de amor...

Qual deles define melhor você?

“Philautia”, aquele amor que temos por nós mesmos...

Certamente, é onde o amor deve começar: amor próprio!

“Pragma”, baseado na dedicação ao bem maior,  

Está sempre a serviço de metas compartilhadas ou de aliança política.

“Ludus”, oposto de Pragma, é o amor descompromissado, divertido,

Não se faz durar por si próprio, porque seu foco é o prazer.

“Eros” é pura paixão e desejo, é o amor mais perigoso,

Porque nos consome, desafiando a lógica e a razão...

“Philia”, sentimento sincero, platônico e mutuamente benéfico,

Compartilhado com nossos irmãos ou amigos próximos.

É muito sábio, prioriza a conexão íntima e autêntica com o outro.

“Storge”, amor especial, poderoso e eterno...

Mas que não se constrói entre iguais:

Os pais amam seus filhos, incondicionalmente, sem esperar nada em troca.

E “Agape”, o amor universal, a que todos nós aspiramos sentir.

Dá-nos o desejo de fazer o bem, sem olhar a quem, com compaixão e altruísmo.

Indubitavelmente, há muitos tipos de amor, tantas formas de amar...

E deixamos nos esvaziar no preconceito, na arrogância, na prepotência...

Esquecemos, de fato, nossa essência...

Não perca tempo, não se sabe se estaremos aqui amanhã...

Dê cor e sentidos a todo tipo de amor...

Antes? Depois? Agora! Mesmo em tempos de isolamento...

É evidente que não interessa o tipo, a forma, a raça, o sexo, a crença...

Sinta o amor bater de leve à sua porta...

Abra a mente, o coração, a alma... Veja que nada mais importa,

Apenas amar, ainda que, na quarentena...

Afinal, toda forma de amor vale a pena!


domingo, 26 de julho de 2020

Colibri



Natureza em harmonia perfeita...
Dualidades muitas em equilíbrio,
Ainda que tempestades tragam frio...
Tirando-nos a calma num calafrio
Ou nos atirando ao vazio...
Há, aqui, arquétipos da esfera rarefeita...

Diafaneidades fazem parte da alma imperfeita:
Transbordam emoções...
Debulham-nos em inconstantes sensações,
Duelam atemporalmente paixões
Que nos despem de tantas contradições...
Para perfilar enigmas na alma refeita!

Ainda que esteja sóbrio... sinto-me ébrio...
Entorpecido pela realidade,
Empedernido pela dificuldade,
Urge romper grilhões e escancarar a verdade:
Encontrar em nós todos os resquícios de humanidade...
Evolução emocional - eis o nosso grande mistério!

É preciso vencer a mesmice...
Ser nós mesmos: revolucionários!
Ainda que isso faça de alguns mercenários...
E dos que amam panfletários...
Afinal, há em nós tantos contrários!
Que nos reconhecemos em recaídas de pieguice!

Molda-se mosaico de destroços perdidos
Tingindo com tintas multicores o cinza dos dias mornos...
Prelúdio desalinhando acordes tortos...
Tiram-nos a paz, brincam com quimeras e desejos absortos...
Vontade ávida exaspera e lança-nos aos infernos,
Despenhadeiro inumano: império de todos os sentidos!

Voa livre o colibri... Cobre e sorri... Sonhos de amor!
Imperfeições de humana e singular beleza
Encobrem as nuanças cinza da tristeza...
Tangem suspiros diante da delicadeza...
Acordam percepções à flor da pele com sutileza...
Ah... Beija-flor, fere e beije, profundamente, sua flor!!!

quinta-feira, 2 de abril de 2020

ISOLAMENTO



A liquidez do presente roubou-nos a sensação de segurança,
Deu-nos a aparente liberdade de escolha,
Contudo vivemos enclausurados...
São muitas as nossas prisões!
Tantas escolhas nos sãos impostas!
Assumimos máscaras sociais:
A mulher de hoje, por exemplo, não tem escolha...
Precisa ser desdobrável...
“Ser ou não ser, eis a questão? ”
Ser mãe, esposa, filha ou ser profissional competente?
Ser engajada e politizada ou ser submissa e alienada?
São tantos papéis que nos perdemos...
Vivemos à espreita de nós mesmos, à margem de nossa essência...
Não há mais tempo para sentir...
Desgastamo-nos nas frustrações cotidianas
Que nos impedem de esvaziar a mente
E encher de emoções o nosso coração!
Pensamos em demasia e sentimos tão pouco!
Vivemos a serviço de coisas e papéis impostos...
O capitalismo selvagem nos transforma em máquinas,
Tornamo-nos escravos, acorrentados à imagem e às ilusões...
Exaurimo-nos emocionalmente...
Sem mapa ou bússola, vivemos à deriva...
Nestes tempos sombrios, há, sem dúvida, uma metamorfose à vista!
O isolamento nos confina,
É preciso nos reconectar com nossa própria essência...
Estamos na berlinda ou à beira do precipício?
O que restará de nós quando a tempestade se dissipar?
Talvez percebamos que a humanidade está, há muito, doente...
Quem sabe aprendamos com a dor e a solidão
A sermos apenas nós mesmos?
É necessário aceitar que somos frágeis...
Precisamos de todos, vivemos carentes do outro
É chegada a hora de observar, refletir e sentir...
A lagarta, fechou-se em crisálida...
A metamorfose da humanidade se aproxima...
Ainda enclausurados, urge fortalecer nossas emoções...
Arrefecer a arrogância e a prepotência...
Afinal, nem tudo o dinheiro pode comprar...
Aprenda e exercite a tolerância e a empatia...
Acolha com amor a dor do outro...
Certamente, depois de todo este caos,
Quando a calmaria serenar nossos ânimos,
Será possível redescobrir nossas relações afetivas
E abraçar novamente nossos amigos
Sentindo no micro a dimensão do macrocosmo
Ninguém passará por tudo isso ileso...
A transmutação está em curso....
Para que nos tornemos, antes de tudo, HUMANOS!