sábado, 26 de maio de 2012

Ausência



Diante do espelho
Vejo uma nova imagem...
Não me sorri...
Não chora por mim...
Apenas mostra as marcas indeléveis do tempo.
Já não é mais criança.
A beleza de sua vivacidade
Está ofuscada pelas agruras vividas...
Exaure pelas mãos a força da paixão...
Caminha taciturnamente
Em direção a si mesma...
Desfazendo contornos,
Tergiversando metáforas
Ora claras...
Ora sutis...
Traz nos olhos o brilho triste
De uma despedida...
Na boca o sorriso desfeito...
Na voz entrecortada
Há um soluço...
Um sussurro que despeja seu grito...
O corpo silencia a febre...
O passado amornou os sentimentos...
Não é possível viver de lembranças
E novos significados se definem...
Um vazio incomensurável
Preenche o cinza dos meus dias...
É como se uma parte de mim
Tivesse sido trancafiada
Na arca do tempo...
O espelho que se mostra
Revela parcialmente
O que ainda me resta...
Falta-me a luz
Daquele olhar...
Que me despia de mim mesma...
A voz que me arrancava
Da torpeza, da mesmice...
O toque que abrasava minh’alma
Fecho meus olhos,
Mas não me consigo sentir inteira...
Falta-me o abraço ensandecedor da paixão...
Sinto um frio profundo
Acalentando-me o coração...
Abro os olhos...
Não vejo a cor das aquarelas...
Perco-me nas partituras de violino...
São notas perdidas?
Pedaços de um sonho?
Matizes que vivemos?
Canções que escutamos
Ou juntos compomos?
Sei que meus versos
Debulham-se...
Descortinam-me...
A solidão escurece meus dias
Desenho seus gestos,
Despejo sobre nós
Tantos e intensos desejos...
Fomos conduzidos diante
Um do outro...
Porém nossos caminhos
Interpuseram-se entre nós...
E o olhar que tão bem me reconhecia
Adormeceu os medos esquecidos...
Um abismo cresceu entre nós
Dentro de nós
E muitas vezes vejo seu sorriso maroto
Ouço sua voz recitando versos
Percebo suas mãos geladas sobre as minhas
Ainda olho para a linha do trem
Como naquela primeira noite
E me pergunto por que...
Ainda estou aqui sem entender
As escolhas que fizemos
Os passos que não demos
Às vezes enxugo a lágrima da despedida
Que não tivemos
Sei que nada é por acaso
Que tudo tem seu motivo
Mas ainda espero por respostas
Que talvez inexistam
Ainda anseio por palavras
Que se esqueceram de mim
Além da imagem que vejo
Há uma alma errante
Que duela com o coração
Ainda se esgrimam em mim
O querer e o poder
O ontem e o hoje
Seu olhar e o meu
Que tantas vezes disseram tudo
Por nós
Que dispensava todo o resto
Afinal eram capazes de transportar-nos
Para um lugar mágico
Só nosso
Onde não precisávamos ter receio
De parecermos piegas
Éramos apenas nós mesmos
Sem máscaras, sem medos...
Apenas seres inacabados
Encontrando-se depois
De uma longa e prolongada ausência!

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