quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Palavras

 

 

As palavras, às vezes, me visitam...

Abraçam meus sonhos e transbordam poesia...

 

As palavras muitas vezes me revelam...

Adormecem na sombra da saudade, ancorando, silenciosamente, meus medos...

 

As palavras sussurram meus sentimentos...

Estes que não podem mais ser contidos dentro de moldes ou convenções...

 

As palavras se debulham em mim

Às vezes em versos tortos e torpes; noutras, compondo a história que sou...

 

As palavras me vertem em poeta,

Logo eu que sempre fui multifacetada, inacabada e distorcida do real?

 

As palavras martelam na minha mente...

Abro a arca da memória, mas não há nada além do vazio, adiante vejo o sol nascendo...

 

As palavras dedilhadas escreveram minha travessia:

Estou no limiar, numa espécie de ponte entre o passado e o futuro...

 

Ah! As palavras nem sempre expressam o que sinto...

Contudo me acolhem entre a solidão e a solitude, ensinando-me a estar no presente!

 

Estou inteira nas minhas palavras...

Nas que perdi no silêncio e nas que gritei ao vento,

Nas que me vestiram de encanto e nas que me roubaram de mim...

 

Depois da tempestade e do caos, há no céu a lua cheia...

E as estrelas desenham constelações, transportando-me para além...

O infinito, bordando sonhos, permite-me desatar nós...

 

Desfaço o laço da linda Caixa de Pandora:

Não tenho medo de não estar pronta,

Afinal a vida sempre me surpreende:

Danço com o tempo e aceito a mudança!

 


domingo, 21 de julho de 2024

Trajetória



As palavras ecoam na memória

E abraçam instantes mágicos...

Tentando encontrar respostas para o que escrevi

no livro sagrado do tempo:

Quem sou eu?

O que estou fazendo aqui?

Aonde quero chegar?

Por que ainda não estou onde quero estar?

Questionamentos que só podem ser respondidos

Através do espelho que revela e nos desvela

Ao longo da caminhada da alma que somos...

Diante de um imenso portal,

Há, diante de mim, um reflexo

Mostrando uma mulher que nunca se viu...

Que se escondeu nos escombros das próprias emoções

Que quis tanta coisa que se desmanchou no ar...

Sua beleza atemporal desnuda a busca da perfeição...

Olhar para cima é perceber que nossas asas estão prontas

Ainda que o voo pareça impossível ou improvável...

Na solitude, encontra-se o recôndito perfeito

Para a alma imperfeita que perambula pelas sombras...

Meus pés descalços seguem a trilha do coração...

De mãos dadas com um sonho surreal,

Abraço o espectro fractal que me excogita:

Sou ínfima, grão de areia no mundo do ter...

Na sobreposição do tempo e do espaço,

Sou muito maior do que imaginava ser...

Continuo sem respostas...

No entanto, não estou mais só...

Esqueci as migalhas no passado...

Afinal, mereço mais, sou mais, quero mais...

Há mãos que seguram minhas mãos...

Braços que me enlaçam...

Atravesso o portal e a luz me cinge...

O elo sagrado reconecta-me à minha essência:

Além do bem e do mal...

Atemporal e multidimensional...

Sou apenas poeira de estrelas em travessia...

Desenhando uma nova trajetória...


domingo, 30 de junho de 2024

Raizes

 


Carrego no coração muitas memórias:

Algumas deste tempo complexo e sombrio...

Outras atemporais e imemoriáveis...

Da mulher de agora, há cicatrizes que costuram meus pedaços...

Da criança de olhar perdido, carrego inadequação:

O estar sempre (des)conectada do seu tempo,

Parecendo vir de outro não-lugar além de onde me encontro.

A sacerdotisa se escondia na caverna de sombras...

Para fazer a alquimia das emoções mais profundas...

Perseguida por aqueles que temiam seu poder,

Seguia, despojada de medos, a sua forma de ser...

Conhecia plantas, lia as estrelas, conversava com o tempo...

Ensinava que podíamos dançar com o vento...

Viajante de tantas paragens e experiências singulares:

Saberes e sabedorias ancestrais me levaram a tantos lugares...

(Des)encontros e (dis)sabores verteram-se em valor e lágrimas,

A alma errante é mais forte na vulnerabilidade...

Diante da liquidez deste tempo, que escoa feito água,

Vislumbra-se o passado despido de sonhos e vestido de história...

Contando à criança interna tudo que sua trajetória,

Ainda trará de sombras e marcas; de caos e glória...

Pedaços de ontem cerzidos pelo agora...

Descrevem tanto de tudo que por mim desagua...

O cotidiano acelerado consome meus dias...

Traz a falsa sensação de veracidade...

Rouba o tempo do sonho e da efemeridade...

Será que ainda resta algo belo na realidade,

Nos escombros de agruras tão frias?

Haverá, em algum lugar, além do tempo e do espaço,

Possibilidade de vivenciar o que a alma veio buscar?

Ou passos lentos deixarão apenas os padrões das raízes?

Há que se viver mais do que crises...

Há que se sentir mais do que a estranha sensação...

De achar que precisamos estar todos na mesma direção,

Perdendo nossas idiossincrasias para seguir as mesmas diretrizes.

É preciso olhar para as pedras do passado...

E regar as flores perfumadas de agora...

Há sempre outro dia ao nascer do sol... Mesmo depois de uma noite fria...

Há sempre um novo tempo... Mesmo depois de tanta agonia

Há sempre um sonho possível... Mesmo cheio de nostalgia...

Urge colocar cor em nossas ações...

Com coragem, deixar de lado a razão...

E permitir, novamente, depois de tudo, guiar-se pelo coração!


quinta-feira, 6 de junho de 2024

ESCADA

 

Os poetas escolhem palavras de maneira peculiar:

Alguns selecionam aquelas que traduzem suas emoções...

Outros preferem as que espelham suas ideias...

Há tanta poesia no silêncio de um olhar...


Enquanto o coração guarda os sentimentos...

A mente seleciona suas muitas razões...

Palavras ecoam em mim...


Algumas me traduzem...

Outras me escamoteiam...

Talvez eu não seja passível de ser debulhado em palavras...

Apenas em sentidos múltiplos...


As imagens delineiam sonhos perdidos na memória,

As sombras invadem minha alma,

Roubando o espectro de mim que se olha no reflexo do luar...


Às vezes o cosmo me encanta tanto

E eu acredito, por uma fração de segundo, 

Que sou capaz de ler as estrelas...


Ouço a agonia vestida de roxo com lírio na mão...

Ela vem como o corvo anunciar a morte das ilusões:

O passado se foi, o futuro ainda não chegou

E o agora parece um quarto vazio...


Limpo, bem cuidado, com cortinas que lembram grinaldas:

O vento parece arrancá-las de súbito 

Para que elas se juntem às nuvens...


É hora de subir a escada atemporal da existência

Para adentrar o portal de um novo tempo:

Deixar o passado para trás

E os momentos enevoados arrefecerem...


Já não me sinto perdida nas minhas (des)ilusões...

Porque o primeiro degrau me apresenta a justa medida

De que sem amor não há caminho, nem porque caminhar...


Há que se voltar para si mesmo primeiro

E buscar outros versos em outros afetos...

Afinal só há amor para quem, de fato,

Aprende a si entregar inteiro...


Antes é preciso o amor próprio 

E assim adentrar o frio das despedidas

Para abraçar a intensidade da alma

Que se encontrou no laço, 

No passo, no pó...

Que esteve na solitude, tão só...

Mas que agora estende a mão para o sol...

E vê uma silhueta a abraçar sua solidão.


Estive entre o medo e o devaneio...

Agora acolho o sonho da travessia...

Que me transporta para o melhor de mim...


Achei que era fim, 

Porém era apenas começo: novo ciclo...

Janela da alma - meu olhar abriu a porta do jardim!


AMANTIKIR

 


 

Às vezes, preciso olhar para o alto:

Ver o céu, apreciar às estrelas...

Deixar o sol tocar nossa pele 

E aquecer o coração tão amargurado e vazio...

Quem sabe com lendas e histórias de amor...

Quem sabe com experiências de muito valor...

Quem sabe provando sensações com tanto sabor...

Para desconectar-se do virtual e reconectar-se ao mundo real,

É preciso desligar as vozes que nos impõem padrões

E ouvir nossos ancestrais que dançam sob a lua...

Povoando as histórias que contam quem somos nós:

Somos poeira de estrelas buscando a luz do sol maior!

Para isso, há que se voltar para si mesmo...

Silenciar a alma, ouvir a voz do nosso próprio coração...

Encontrar-se é (re)aprender que somos parte:

Parte de algo maior, imenso e transcendental...

Somos parte do outro que nos dá as mãos...

Que caminha conosco e ouve os suspiros de nossas dores...

Que escuta e acolhe os sentidos da nossa vulnerabilidade...

Que se aceita, ama-se e se permite ser humano...

Somos parte da Grande mãe, Gaya...

Que nos abriga, abraça e renova enquanto centelha divina... 

Na “Serra que chora”, 

Há inúmeras imagens singulares:

Meus pés pisaram a terra úmida,

Senti a vida perpassar por mim...

Águas cristalinas, límpidas e puras banharam-me da cabeça aos pés... 

Vi flores que transbordam amor e beleza...

Ouvi cantos de vários pássaros e o som do vento a balançar as árvores...

Algo mágico aconteceu dentro de mim:

Constatar que somos pequenos demais diante dessa grandeza...

Fez-me escutar o eco de todos aqueles que vieram antes...

Plantaram a semente, cultivaram a terra e colheram o fruto... 

Passaram pelas estações e aceitaram sua natureza...

Na Mantiqueira, reconectei-me com minhas raízes

Sou indígena, sou africana, sou europeia...

Sou fruto da beleza e da tragédia...

Não sou boa, nem má, apenas humana...

Sou parte de tudo e, sozinha, não sou nada...

Cada parte de mim reflete o que fui e o que serei...

Cada pedaço de mim transporta-me para além...

(Des)configurando-me das formas prontas

Para me apresentar a um novo horizonte: o firmamento azul...

A natureza me abraça: eu vejo, ouço, sinto, amo...

Enfim, estou em paz comigo mesma!

 

domingo, 28 de janeiro de 2024

Enigma

 


Ah... perdoe-me...

Perdoe-me porque minhas palavras já não cabem mais em mim...

E transbordam poesia:

“Decifra-me ou te devoro...”

Mergulhada no enigma da esfinge, sigo perambulando pelo deserto taciturnamente...

É um sonho? É uma miragem? Talvez seja apenas delírio...

“O que tem de manhã quatro patas, à tarde tem duas e à noite tem três?”

Épido respondeu que seria o ser humano, afinal ele engatinha quando criança, caminha quando adulto e quando envelhece precisa de uma bengala...

Contudo, nem tudo que nos devora é passível de tradução ou pode ser, de fato, descrito em palavras:

Etimologicamente “palavra” vem do latim “parabola” que a pediu emprestado ao grego “parabolé” – que significa comparação...

Linguistas completam que pode significar também aproximação, discurso alegórico, encontro, baque, choque...

Talvez, por isso, “parábola” possa se associar a tantas e variadas áreas como a seção cônica da matemática ou, depois de ser atirada à lama da vulgaridade do latim – que usa “verbum” na sua maneira culta, possa nos trazer à tona “parabla” tão presente nos romances românticos.

Sem dúvida, há muitas formas de falar sem nada dizer...

Há tantas formas de fazer poesia sem nada escrever...

Há muitas formas de se permitir e se perceber humano...

Sim, há outras linguagens... muitas...

Diante das palavras que se perdem no silêncio...

Visto-me agora apenas com a seda tênue da poesia que delineia o portal dos sonhos e bate desesperadamente à porta da razão:

Estou no labirinto de Chartres, buscando decifrar enigmas e encontrar respostas...

Olho em volta e não vejo nada...

Estou à beira do abismo: gritos ecoam e retornam para mim...

É apenas o som da minha própria voz em busca do descortinar do que foi ou do que ficou perdido no tempo e no espaço...

Meus medos desvaneceram, talvez tenham ficado presos ao formulário da moral e dos bons costumes...

É preciso se despedir da voz que dita regras e esquecer o que os outros podem ou vão pensar de nós...

Aceito o desafio de me ver decifrada, translúcida neste oráculo poético que tudo mostra que  tudo vê e nada diz explicitamente...

Vou me despedindo das dores e dos dissabores...

Estou plenamente iluminada pela minha intensidade que ferozmente me atira ao despenhadeiro das ilusões...

Já estive no inferno e já toquei o céu diversas vezes, apenas por ser assim: inteira e intensa...

Já vivi delícias inimagináveis e já me debulhei inteira em lágrimas...

Hoje, a mulher  - que sou – não acata mais a máscara da santa, “da bela, recata e do lar”...

Já não espero mais o príncipe encantado vir me salvar, nem desejo estar presa ao fatídico amor romântico, ou seja, não quero mais me aventurar numa relação falida como o casamento, nem quero um relacionamento perfeito – porque nenhum deles existe, são meras ilusões vendidas pelo mercado do patriarcado.

Hoje, a mulher – que sou – se olhou no espelho e viu no seu reflexo um mapa: minhas linhas de expressão espelham as cicatrizes que carrego na alma.

Mesmo diante do caos dos afetos desfeitos, encontro-me na encruzilhada do desejo...

Confesso que a mulher – que sou – não é de ferro...

Não é perfeita, nem santa (nem quero sê-lo)...

Sou de carne e osso... sou humana em demasia e em mim pulsa a febre do desejo...

Eu quis silenciar, eu tentei ficar quieta às insignificâncias do ser que se quer foi ouvido, mas o poeta em mim não me aceita submissa e me atormenta de madrugada, batendo incessantemente à porta dos meus sonhos...

Sim, a mulher – que sou – sonha e já sonhou tanto: algumas vezes sonhos lúcidos, noutras vezes desperta e bem acordada...

Sim, a mulher - que sou – sonha em diversos sentidos e com todos os meus sentidos: visão, tato, olfato, audição e paladar...

Ela sente e ela se sente...

Neste sentido, meus sentidos aguçados pelo desejo sussurram palavras tantas vezes silenciadas...

Muitas vezes eu escamoteei meus desejos, escondendo-me no ritmo acelerado do dia a dia, na falta de tempo e assim fazia-os adormecer, ou seja, esquecia o que me faz verdadeiramente vibrar...

Às vezes, uma voz ou um toque sutil desencadeia um fluxo intenso de energia que despeja a inércia de um lago na fluidez de um rio que segue em turbilhão em direção ao mar...

Tudo isso destrancou a caixa de Pandora – onde guardei meus desejos ardentes – e agora a mulher (que sou) pulsa de desejo, sente que está viva e, portanto, deseja viver o calafrio que me percorre inteira.

Não há culpa neste desejo, eu preferi, por tanto tempo, não ver e não sentir... apenas seguir no anonimato das minhas próprias emoções...

Preciso sair das sombras do silêncio e encontrar o meu desejo de viver e assim esquecer o resto do mundo, apenas para me permitir sentir e deixar os sentidos que me impelem seguir em frente depois de todas as tempestades...

Nem tudo está ao meu alcance, nem sempre se pode fugir de tudo, dos padrões pré-estabelecidos, das máscaras sociais e dos traumas do passado para encontrar o oásis no meio do deserto da alma, contudo, vez ou outra, o poeta bate à minha porta e me permite sonhar - tudo tem seu tempo e depois do sonho ( que pena!?!) - é preciso A – COR- DAR!