domingo, 31 de dezembro de 2023

Portal

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Hoje são 31 de dezembro...

Este foi o dia escolhido para mim

Um ciclo se fecha...

E outro se inicia...

Mais um ano termina...

Amanhã será um outro dia

E trará um novo ano...

Muita gente celebra...

Muita gente se veste de branco...

Há aqueles que saltam ondas...

Há os que fazem oferendas...

Há os que bebem e nem sabem onde estão...

Há os que soltam fogos de artificio...

Estouram champanhe...

Fazem pedidos...

Fazem promessas...

Traçam metas...

Delineiam sonhos

Para as páginas em branco do ano vindouro!

Em meio as celebrações,

Estou em algum lugar ermo dentro de mim...

Andando descalça,

Vou pisando a areia fria do deserto da alma...

Longe, mas, ao alcance utópico dos meus olhos,

Vejo um portal brilhando diante de mim:

Vou a viajante e a viagem!

Perambulo pela consciência da mulher que sou

E pela inconsciência do ser que também sou...

Há em mim todos os sonhos do mundo

E nenhuma certeza diante do imponderável...

Resta-me apenas caminhar rumo ao desconhecido...

Não sinto medo, nem solidão...

Aprendi na solitude a conhecer minha essência...

Busco não ser prepotente

Porque sei de minhas imperfeições...

Sou pequena, quase ínfima...

Sou torta e sigo torpe o meu caminho...

Mas sinto em mim o fluir da vida...

Sou parte do todo, sou centelha divina!

E ainda que eu desconheça o que há depois do horizonte...

Respiro fundo e sei que estou conectada...

Como uma planta, como uma flor...

Sinto minhas raízes alimentando-me...

Por isso agradeço a força ancestral

Que me trouxe até aqui!

Gratidão a todos que vieram antes de mim!

Abro os olhos da mente

E vejo o amanhecer...

Agradeço a todos os que deram as mãos

Que me doaram energias de paz, de amor e abundância...

Agradeço também os que me viraram as costas...

Aos que zombaram de mim...

Aos que me acharam uma tola sonhadora...

Todos  - contribuíram para construir o mosaico que sou!

Nesta diversidade multicor de áurea e de alma,

Continuarei trilhando a travessia do ser que sou...

E de tudo que preciso fazer para chegar sempre

A melhor versão de mim mesma!

 

Neide Cristina Soares

Portal

 

 

Hoje são 31 de dezembro...

Este foi o dia escolhido para mim

Um ciclo se fecha...

E outro se inicia...

Mais um ano termina...

Amanhã será um novo dia

E trará um novo ano...

Muita gente celebra...

Muita gente se veste de branco...

Há aqueles que saltam ondas...

Há os que fazem oferendas...

Há os que bebem e nem sabem onde estão...

Há os que soltam fogos de artificio...

Estouram champanhe...

Fazem pedidos...

Fazem promessas...

Traçam metas...

Delineiam sonhos

Para as páginas em branco do ano vindouro!

Em meio as celebrações,

Estou em algum lugar ermo dentro de mim...

Andando descalça,

Vou pisando a areia fria do deserto da alma...

Longe, mas, ao alcance utópico dos meus olhos,

Vejo um portal brilhando diante de mim:

Vou a viajante e a viagem!

Perambulo pela consciência da mulher que sou

E pela inconsciência do ser que também sou...

Há em mim todos os sonhos do mundo

E nenhuma certeza diante do imponderável...

Resta-me apenas caminhar rumo ao desconhecido...

Não sinto medo, nem solidão...

Aprendi na solitude a conhecer minha essência...

Busco não ser prepotente

Porque sei de minhas imperfeições...

Sou pequena, quase ínfima...

Sou torta e sigo torpe o meu caminho...

Mas sinto em mim o fluir da vida...

Sou parte do todo, sou centelha divina!

E ainda que eu desconheça o que há depois do horizonte...

Respiro fundo e sei que estou conectada...

Como uma planta, como uma flor...

Sinto minhas raízes alimentando-me...

Por isso agradeço a força ancestral

Que me trouxe até aqui!

Gratidão a todos que vieram antes de mim!

Abro os olhos da mente

E vejo o amanhecer...

Agradeço a todos os que deram as mãos

Que me doaram energias de paz, de amor e abundância...

Agradeço também os que me viraram as costas...

Aos que zombaram de mim...

Aos que me acharam uma tola sonhadora...

Todos  - contribuíram para construir o mosaico que sou!

Nesta diversidade multicor de áurea e de alma,

Continuarei trilhando a travessia do ser que sou...

E de tudo que preciso fazer para chegar sempre

A melhor versão de mim mesma!

 

Neide Cristina Soares

sábado, 30 de dezembro de 2023

FOZ

 


O poema é o porta-voz
Escute-o
Desdobre os sonhos após

A verdade tem voz
Ouça-a
Ecoa lá no fundo de nós

O tempo passa veloz
Viva-o
Palavras desmancham nós

Pedaço de mim feroz
Conheça-o
É preciso vencer o algoz

Laços de amor... a sós
Entrelaçam-nos
Neste desejo atroz

A solidão é meu albatroz
Vença-a
Lágrimas desfiam o retrós

O passado – dentro da noz
Supere-o
Nas curvas do rio, encontre sua foz


sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Tua Voz

 


Como canção profana

Toca-me tua voz...

Acendendo a chama

Do desejo em nós.

 

Vejo-te perpassar por mim,

Olhares turvos,

Voz a silenciar assim

Desejos e medos mudos.

 

Teu olhar infiltra

N’alma faz dançar...

Imagem que perfuma

E me faz sonhar...

 

Teu olhar despe

As palavras que não houve.

Desejos nos vestem

Dedilhando formas absorvem..

 

Quero ir além...

Além do teu olhar

Onde não haja ninguém,

Para impedir a fúria do mar.

 

Mar em turbilhão...

Veste-nos com a canção...

Canção da tua voz,

Desfazendo todos os nós...

 

Rompe-se nas rochas,

As lavas de um vulcão.

Resfriando-se nas ondas,

Tempestades... Tufão!

 

És tua voz...

E vive nas palavras...

Que arde nos sonhos

E na ânsia de apreendê-las.

 

Ouço-te no meu silêncio,

Porque tu em mim persistes.

É preciso apagar o incêndio

Que tua voz desprende.

 

Tudo se resume num olhar,

Num  toque que se perdeu.

Em meio a voz que acendeu e apagou

O fulgor insano desse mar!

 

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

ARREBOL


 


Às vezes passamos tempo demais adormecidos sem perceber:

É preciso abrir os olhos “a – cor – dar”

Ou seria “dar cor a...”?

Desperdiçamos tempo acreditando que esse era o jeito certo de ser...

 

Todavia, talvez, este fosse apenas o nosso avesso,

O verso de nosso reverso...

É chegada, então, a hora de destrancar a caixa de Pandora

Onde trancafiamos os nossos sonhos de outrora...

 

Quando os ciclos se fecham...

Vemos parte de nós indo embora...

E, no espelho retrovisor, lá fora...

Vemos se despedir de nós os sonhos que não vingaram...

 

Morre-se o que foi sonhado e talvez pudesse ter sido...

E não foi, sequer, vivido...

Despedir-se de nós mesmos dói: devasta...

Contudo, nesta agonia, gestamos a luz que nos destrava...

 

É comum acharmos que não estamos prontos...

É comum nos acomodarmos à escuridão...

É comum nos acalentarmos à sombra de nossos medos...

É comum espreitar pela fresta a poesia e a paixão...

 

Difícil mesmo é aceitar que “tudo tem seu tempo”...

Difícil é amargar as desilusões...

Depois de dançar tango com as ilusões....

Depois de sentir, no corpo e na alma, tantas emoções...

 

Romper a crisálida e ver no espelho nosso reflexo

É deixar a luz entrar e retirar a máscara da vulnerabilidade...

Aprender na dor a dar forma e força às nossas asas: tão complexo...

Confortável era mesmo a sombra que escamoteava nossa identidade...

 

No entanto, quando o tempo de lagarta se esgota,

Não se pode mais morar no casulo ou no castelo do passado...

É preciso encontrar outra saída, outra rota...

E esse despertar inexorável provoca um cataclismo revelado...

 

Terremotos, tsunamis, caos absoluto:

Desta dor descomunal, ressurgimos, renascemos...

Já não somos os mesmos de antes: amadurecemos...

Nem nos reconhecemos no reflexo que nos olha resoluto....

 

Pairamos, neste instante, sobre um campo de girassol....

Aperfeiçoamos a razão ao atravessar o deserto dos sentidos

Ficamos tempo demais catatônicos e perdidos

Agora, como borboleta, vemos um novo tempo: arrebol...

 

 

Neide Cristina Soares

 

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Carpe Diem

 



 

Houve uma tempestade aqui...

Em meio ao caos:  furacão, devastação, tufão...

Mar bravio em tormenta

Sacudiu as bases da emoção...

Despertando dragões adormecidos,

Despejou destroços sobre o coração...

Era preciso a(cor)dar e prosseguir...

 

Haverá sempre muitos sonhos...

Para em mil cores matizar...

Mosaico de destroços

Que no sol se juntarão a brilhar...

Descortinam véus...

Esperam dissipar as nuvens

Desejam o céu de um novo olhar...

 

Há muitos versos a compor

Banhados, debulhados e dedilhados agora...

Em todos os sentidos transbordados,

Neste instante agridoce, sorve e é sorvido...

Devora e é devorado... há poesias a expor

Na outra alma que adentra nossa casa

Brada: Carpe Diem, um brinde ao amor!



quarta-feira, 26 de julho de 2023


 

NOITE ESTRELADA DE VAN GOGH

 

A arte e a poesia andam de mãos dadas:

O poeta em mim às vezes sussurra,

Às vezes chora,

Às vezes conclama,

Às vezes apenas silencia...

 

O poeta em mim recarrega minha alma de poesia

E, através de alguns versos, debulha palavras,

Dedilha os escombros dos meus sonhos...

Apresenta consonância com minha história multifacetada,

Encontrando eco nas vozes que povoam o imaginário...

 

Imersa na obra de Van Gogh, caminho pisando leve,

Perambulando pela mente conturbada de um gênio,

Um dos maiores gênios pictóricos já conhecidos...

Sua arte - icônica e significativa –

Foi tão intensa quanto sua alma incompreendida...

 

Ele dizia que não queria pintar quadros, mas sim a vida...

Buscou inovar e criar, por ser um grande vanguardista,

Desenvolveu seu talento com um estilo genuíno e próprio...

Seu olhar triste refletia seu deslocamento...

Não encontrava sentido no seu tempo, nem na sua história...

 

Pintou mais de setecentos quadros, mas vendeu apenas um...

Viveu em crise a maior parte da sua vida

Isolou-se do mundo, internou-se, feriu-se e foi ferido...

Sucumbiu à dor para nos fazer viajar pela memória:

Em tantas obras como “O quarto em Arles” e “Noite estrelada”...

 

O poeta em mim dá as mãos ao pintor pós-impressionista:

Sussurrando aos meus ouvidos as nuances coloridas da alma,

Sigo absorta, afetada pelo belo, pelo insólito mundo da arte...

Vou observando o desvendar da minha e de outras tantas trajetórias

Sorvo o agridoce sabor sinestésico que abastece de luz minhas memórias!

terça-feira, 25 de julho de 2023

 

E SE...

 

E se eu tivesse feito escolhas diferentes?

Quantas vezes nos perdemos na travessia...

Apenas deixamos a vida nos levar,

Sequer paramos para pensar...

No vai e vem das areias da ampulheta

E trancafiamos na memória nossa essência...

Rastejando como lagarta não reparamos que a alma é de borboleta...

 

E se eu tivesse conseguido me desvencilhar do passado?

Tantas vezes nos deixamos conduzir...

Na dança dos ventos e no baile das ondas...

Encontrando nossos fantasmas, amargamos nossos medos

Seguimos vendados, destituídos de esperanças,

Preferimos não ver quem somos, escondemos nossos desejos

E, repentinamente, vemos o nosso castelo de sonhos ruir..

 

E se eu tivesse, desta vez, ouvido minha intuição?

Algumas vezes nos vemos em cacos...

Destruídos em mil pedaços, em escombros,

Seguimos tentando compor um mosaico multifacetado...

Já que perdemos nosso reflexo nos fragmentos do espelho quebrado...

Devíamos ter escutado a nossa própria voz e mudado nossos passos...

 

E se eu tivesse seguido outro caminho?

Vez ou outra, a vida, entre vírgulas, coloca-nos em pausa...

E nós que seguíamos o fluxo deste mundo líquido e insólito,

Procurando preencher nossas lacunas descomunais

Com inúmeros subterfúgios e máscaras sociais...

Vamos criando expectativas e acorrentando-nos em laços superficiais...

Escamoteando nos excessos, não notamos o que o esvaziamento nos causa...

 

E se eu tivesse seguido meu coração?

Se tivesse deixado de lado essa maldita voz da razão...

Que insinua o tempo todo que ando torpe pela linha reta...

Que me mostra desfigurada no mosaico de cristal colorido...

Tão insone quanto os ébrios que desenham a ilusão...

Ainda que fragmentada a vida segue seu curso (re)definido

Afinal, não há “e se...” apenas o que delineamos como uma nova direção!



domingo, 19 de março de 2023

INTUIÇÃO

 



 

Em busca da sabedoria perdida,

Seguia eu por descaminhos tortos...

Logo eu: alma errante, destemida,

Tinha medo de ouvir sua própria voz...

Ao meu redor, outras mulheres cantavam e dançavam...

Eu queria tanto ouvir a voz que ecoava delas,

Mas a barreira do silêncio me impedia de ser eu mesma.

Abri os olhos e me vi em um lugar muito especial...

Pisava meus sonhos com os pés descalços:

Entre tantas imagens e símbolos, fui delineando a estrada...

Construindo o mosaico de sentimentos e emoções,

Curando as dores da menina perdida e esquecida,

Plantando as flores que me fazem ser quem sou:

Evidentemente dual e contraditória!

Ainda carrego na bagagem: dúvidas, incertezas e caos

Mas me sinto inteira, pronta, viva...

Feito louca, estou à beira do precipício:

Pronta a me atirar rumo a um novo tempo!

Abayomi e minhas ancestrais estão comigo

Enroladas nos fios dos meus cabelos...

Seguem contando histórias e mostrando sentidos...

Como Vasalisa, também carrego uma boneca

E a caveira iluminada de Baba Yaga...

Sou a princesa e a bruxa: a bela e a fera...

Ambas coexistem em mim e me tornam, essencialmente, Mulher...

Sou rosa vermelha, perfumada e repleta de espinhos:

Sinta o perfume, mas não tente roubar minha essência...

A intuição aguçada faz a caça tornar-se caçador...

O espectro que teve sua luz apagada

Descobriu, nas cinzas, a brasa da esperança...

E a lagarta que fui transmutou-se: borboleta!

domingo, 29 de janeiro de 2023

 

EM FRENTE

 


Há momentos que como lagarta

Enclausuramo-nos em nossa dor:

Sentimo-nos desorientados, perdidos, inadequados...

Fora do contexto, não vemos nosso próprio valor!

 

E, mesmo sabendo que tudo passa...

Vemo-nos, estilhaçados, em cacos...

Despedaçados ante um espelho quebrado:

Emoções guardadas, aprisionadas em descompassos...

 

Ainda que tenhamos algum registro:

Um compromisso escrito ou irrestrito

E as histórias de nossas vidas nos interceptem...

Perdemo-nos nos (des)caminhos a que nossas vidas nos impelem

 

Encontramo-nos e aprendemos um com o outro a amar:

O sentimento nasceu, renasceu e nos faz amadurecer...

Mas as intempéries nos fizeram esmorecer

E como tantos nos esvaziamos e nos permitimos escravizar...

 

É preciso agora me afastar: seguir em frente...

Já quis demais ser escolhida livremente...

Mas, muitas vezes, outras são as escolhas

Agora me despeço dos meus sonhos e armadilhas...

 

Rompo os grilhões que me aprisionaram com asas aflantes...

O passado trouxe-me sensações e experiências: insights!

Estou pronta para enfim acordar:

Borboleta errante - pronta para voar!

 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

 RODA DA FORTUNA

 


A vida é feita de ciclos: tudo começa e, um dia, acaba...

Estamos inseridos na Roda da Fortuna que gira constantemente

E nos faz ver e viver as perspectivas múltiplas de nossas experiências:

Muitas vezes, deixamos a vida seguir...

Inferimos que nossas interferências seriam medíocres,

Não impomos nossas vontades,

Seguimos o curso do rio, fazendo as curvas necessárias,

Ultrapassando as pedras que parecem estar sempre ali,

Mas tudo que vai, um dia, volta...

E, nas voltas desta Roda, vejo a face de uma mulher no espelho...

Atrás dela, há uma mão sobre seu ombro: sua ancestral lhe abraça...

À sua frente, sorrindo para as estrelas há uma menina sonhadora...

Ela está ali no meio da ponte: entre a anciã e a criança...

Ela é a própria ponte!

No colo do rio que desliza sob a ponte,

É possível ver, nas margens do tempo,

Muitas flores com perfumes e espinhos...

São sonhos espalhados pelo caminho...

Esperanças ainda lhe permitem respirar...

Até aqui ela se permitiu estar só,

Acompanhada apenas da sacerdotisa de outrora...

Mas seu coração de mulher continua pulsando e sorrindo para o amanhecer...

“- Estou pronta!” – ela diz para o futuro.

“– Estou pronta para amar de novo!”

 O inverno das despedidas cede lugar à primavera de um novo tempo...

Olho para trás e vejo uma mulher se despedindo de mim...

À minha frente, um raio de luz abre um túnel de flores...

Não sei o que me espera, mas eu preciso ir...

Estou cansada de permanecer sozinha na ponte entre o passado e o futuro...

A Roda gira lentamente e meus pés descalços sentem as folhas secas...

Sim, estou pronta para seguir em frente...

Agradeço ao passado, chegou a hora de desenhar meu futuro...

Estou em busca de mim mesma... Adiante... O sol está radiante!

 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

 

“EU SOU MEU PRÓPRIO LAR”

 


 

Vozes ancestrais em mim ecoam...

Ouço a voz da mulher que, ao redor da fogueira, dança...

Ela bate palmas e sorri para as borboletas que voam...

Ela também chora a violência que rouba seus sonhos de criança!

 

Ouço a voz da sacerdotisa que conhece ervas curativas e a sorte

Unindo em suas mãos o poder de cura de mãe e avó

Alivia dores do corpo e da alma: desata o nó...

Aprendeu a apreciar a vida e a aceitar a morte!

 

Ouço a voz da camponesa que colheu o que não plantou:

Aprendeu a cultivar a terra e a ouvir os segredos da natureza ...

Ao se harmonizar com ela, reconheceu sua magia transformadora

E por isso também foi julgada e condenada de forma devastadora!

 

Ouço a voz da rainha que sentia cheiro de flores ...

Enquanto predizia o futuro de dores

Não queria ver sofrer os que amava

E por isso como bruxa foi queimada viva!

 

Ouço a voz da menina frágil que acreditava em contos de fadas

Quis ser princesa, mas a voz da bruxa roubava-lhe a fantasia

Quis ser grande, mas foi nas delicadezas que fez a travessia:

Metamorfoseou-se em mulher através das palavras...

 

Ouço a voz das histórias que ouvi acordada...

Das mulheres que foram amarradas, amordaçadas, encarceradas,

Muitas aparentemente livres vivem com medo, cerceadas...

Outras nem percebem o tamanho ou o luxo da sua gaiola dourada!

 

Ouço a voz da mulher “triste, louca ou má”...

Que foi rotulada assim, por recusar seguir a tal receita cultural

De “ser bela, recatada e do lar”...

E mesmo em meio a tantas dores decidiu mudar...

 

Ouço um refrão que não me define:

Desatinada, louca, desvairada, pela estrada torta...

Desato todos os nós ancestrais...

Queimo o mapa e mudo minha rota!

 

Delineio para mim uma nova estrada

Reinventando a história ainda não contada

Sou a mulher que faz sua trajetória se transmutar

Afinal “eu sou meu próprio lar”!