quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

 

“EU SOU MEU PRÓPRIO LAR”

 


 

Vozes ancestrais em mim ecoam...

Ouço a voz da mulher que, ao redor da fogueira, dança...

Ela bate palmas e sorri para as borboletas que voam...

Ela também chora a violência que rouba seus sonhos de criança!

 

Ouço a voz da sacerdotisa que conhece ervas curativas e a sorte

Unindo em suas mãos o poder de cura de mãe e avó

Alivia dores do corpo e da alma: desata o nó...

Aprendeu a apreciar a vida e a aceitar a morte!

 

Ouço a voz da camponesa que colheu o que não plantou:

Aprendeu a cultivar a terra e a ouvir os segredos da natureza ...

Ao se harmonizar com ela, reconheceu sua magia transformadora

E por isso também foi julgada e condenada de forma devastadora!

 

Ouço a voz da rainha que sentia cheiro de flores ...

Enquanto predizia o futuro de dores

Não queria ver sofrer os que amava

E por isso como bruxa foi queimada viva!

 

Ouço a voz da menina frágil que acreditava em contos de fadas

Quis ser princesa, mas a voz da bruxa roubava-lhe a fantasia

Quis ser grande, mas foi nas delicadezas que fez a travessia:

Metamorfoseou-se em mulher através das palavras...

 

Ouço a voz das histórias que ouvi acordada...

Das mulheres que foram amarradas, amordaçadas, encarceradas,

Muitas aparentemente livres vivem com medo, cerceadas...

Outras nem percebem o tamanho ou o luxo da sua gaiola dourada!

 

Ouço a voz da mulher “triste, louca ou má”...

Que foi rotulada assim, por recusar seguir a tal receita cultural

De “ser bela, recatada e do lar”...

E mesmo em meio a tantas dores decidiu mudar...

 

Ouço um refrão que não me define:

Desatinada, louca, desvairada, pela estrada torta...

Desato todos os nós ancestrais...

Queimo o mapa e mudo minha rota!

 

Delineio para mim uma nova estrada

Reinventando a história ainda não contada

Sou a mulher que faz sua trajetória se transmutar

Afinal “eu sou meu próprio lar”!

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