quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Crisálida



Lagarta enclausurada no casulo,
Absorta em sua dor,
Imersa na escuridão,
Consome-se cotidianamente
Nas agruras destes nossos tempos...
Despeja-se na liquidez disforme dos fatos...
Sua alma intrépida transforma sua essência:
Crisálida, presa, num fio de seda,
Dançando à luz prateada do luar...
Tênue fio da vida transmutando emoções...
No burilamento das sombras,
Há o encantamento das formas...
Revolvendo tudo tempestades internas...
Erupção de sentimentos ignotos:
Alguns exímios e nobres,
Outros vis e torpes...
Dualidade atroz: insana e humana
Que hora nos conduz ao céu,
Noutra nos atira ao inferno...
No firmamento, a lua beija o mar...
Numa rara confluência subliminar,
Despetalar de sonhos em flor:
Florescer de porvir a nosso dispor...
Sentidos à flor da pele...
Sutis e esperadas configurações...
Esvaziamento de opressões...
Gotejar de esperanças vindouras:
Os primeiros raios de sol despontam,
A crisálida rompe a fina seda,
Desabrochar da crise existencial:
Asas aflantes e coloridas,
De pudor e tabus desprovidas...
Abraçam-me e se esvoaçam...
Buscando outras direções.
Entreabro a janela da alma
E vejo onde estou:
À procura de mim mesma,
Enfim, desperto da agonia ignóbil...
Pressinto a leveza do vento...
Ah... Tenho asas!
E, finalmente, sinto que posso voar...
Feito borboleta errante!