terça-feira, 19 de junho de 2018

Fios d'ouro


Noites do mundo em conflito
Confrontam-se em mim ideias
Delineiam-se mudanças
Desbotam-se ideologias

Meu eu em desalinho
Espada na mão
Desta que chamam razão
E com escudo apenas meu coração

Sinto escoar emoções
Desaguam pedaços de ontem
Apequenados em busca do agora
Tantas lembranças... (des)ilusões

Numa gaiola dourada
Há um pássaro de asa cortada
Busca o céu azul dos seus sonhos
Esquecido, perdido, esmaecido nos medos

O poema se despedaça em versos
Esmiúça nas palavras o sentir (des)medido
Escrever é tudo que me resta?
Despedir-me, desfazer-me nesta festa?

Talvez haja além da sombra que sobra em mim
Dedilhando as cicatrizes de outrossim
Uma réstia de luz, uma faísca de estrela
Quiçá um fio dourado de sol nesta minha aquarela

Ah... quisera acabar agora com esta guerra
De luz e sombra... Razão e emoção
Deixar nos sulcos da pele
O suor e a voz que ecoam na amplidão

Desejo a luz do luar, espelhando o sol
Almejo o ápice, o céu... Enfim desperto
E vejo-me de braços vazios
A caminhar pelo deserto

Sede e fome abatem a alma errante
O corpo sente o peso dos anos
A alma a leveza do tempo
E tudo parece devaneio distante

Renovam-me o dia e a vida que clareiam: a aurora
Esperança de rever os cacos de outrora
Colados com fios d’ouro no tecer da memória
Colar de contas de lágrimas: minha história!

sábado, 2 de junho de 2018

MEMÓRIA


Realidade atroz me apavora...
Ando a esmo pela rua deserta...
A tessitura do agora em horas me desdobra...
E vejo vestida de prata a lua desperta...

É noite escura aqui dentro...
E lá fora outra noite se desvenda...
A fantasia borda meus sonhos: epicentro.
E eu olho a imagem no espelho: sem máscara ou venda!

Qual é a senha deste enigma egocêntrico?
Onde estou? Acordada ou em transe?
Perambulo pela orla de mim mesma: excêntrica.
Tateando as sombras e os resquícios: sente... pense...

Perto do que aqui dentro me escacaram...
O caos lá fora é ínfimo, ainda que sem fim pareça...
Despedaçam-se os fatos, criam-se pós- verdades: a tudo mascaram
Delineando conjunturas distorcidas sobre nossa cabeça...

E de tudo que a travessia me roubou agora quero tanto
Apenas sentir o calor das suas mãos sobre mim...
Por  favor, beija-me lentamente assim...
A memória precisa de decorar com detalhes todo o canto...

Ouça a música, que em noites como esta, fez-nos viajar
Entrelaçados ao luar, quis tanto por mais tempo sonhar...
Enxuga as lágrimas desta alma que cansou de chorar...
Embala as afinações que nos fazem despertar...

Psiu! Silêncio!!!
Não me acorde deste devaneio que me permitiu encontrar
Nas brumas do passado, os cacos do que sou: prenúncio...
Ah... desejo, na verdade, a entrega, o êxtase, o oásis: a-cor-dar!