quarta-feira, 11 de outubro de 2023

ARREBOL


 


Às vezes passamos tempo demais adormecidos sem perceber:

É preciso abrir os olhos “a – cor – dar”

Ou seria “dar cor a...”?

Desperdiçamos tempo acreditando que esse era o jeito certo de ser...

 

Todavia, talvez, este fosse apenas o nosso avesso,

O verso de nosso reverso...

É chegada, então, a hora de destrancar a caixa de Pandora

Onde trancafiamos os nossos sonhos de outrora...

 

Quando os ciclos se fecham...

Vemos parte de nós indo embora...

E, no espelho retrovisor, lá fora...

Vemos se despedir de nós os sonhos que não vingaram...

 

Morre-se o que foi sonhado e talvez pudesse ter sido...

E não foi, sequer, vivido...

Despedir-se de nós mesmos dói: devasta...

Contudo, nesta agonia, gestamos a luz que nos destrava...

 

É comum acharmos que não estamos prontos...

É comum nos acomodarmos à escuridão...

É comum nos acalentarmos à sombra de nossos medos...

É comum espreitar pela fresta a poesia e a paixão...

 

Difícil mesmo é aceitar que “tudo tem seu tempo”...

Difícil é amargar as desilusões...

Depois de dançar tango com as ilusões....

Depois de sentir, no corpo e na alma, tantas emoções...

 

Romper a crisálida e ver no espelho nosso reflexo

É deixar a luz entrar e retirar a máscara da vulnerabilidade...

Aprender na dor a dar forma e força às nossas asas: tão complexo...

Confortável era mesmo a sombra que escamoteava nossa identidade...

 

No entanto, quando o tempo de lagarta se esgota,

Não se pode mais morar no casulo ou no castelo do passado...

É preciso encontrar outra saída, outra rota...

E esse despertar inexorável provoca um cataclismo revelado...

 

Terremotos, tsunamis, caos absoluto:

Desta dor descomunal, ressurgimos, renascemos...

Já não somos os mesmos de antes: amadurecemos...

Nem nos reconhecemos no reflexo que nos olha resoluto....

 

Pairamos, neste instante, sobre um campo de girassol....

Aperfeiçoamos a razão ao atravessar o deserto dos sentidos

Ficamos tempo demais catatônicos e perdidos

Agora, como borboleta, vemos um novo tempo: arrebol...

 

 

Neide Cristina Soares