terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

DUALIDADES

 



Por entre os escombros de ontem

Perambulo descalço pela orla da praia

A solidão e a solitude emergem de mãos dadas

Confrontam o vazio da alma que se atira ao precipício da psique

Eis que estou diante de um impasse:

A sensibilidade aguça-me os sentidos

Será este um poço de desejos?

Ah... querer, poder e sentir?

Cheiros e toques

Imagens e sons

Turbilhão: tempestade do devir

Suavidade da brisa: porvir

O que pedir diante do abismo?

Inverter as polaridades que se escancaram

Em tantas e tão diversas esferas?

Seria possível encontrar um outro caminho?

Quem sabe a terceira margem do rio?

Bem e mal,

Santo e profano,

Céu e inferno,

Pouco e muito

Tangível e etéreo

Efêmero e eterno...

Dentro de cada um

Moram os (pre)conceitos e a dor

Inúmeras disparidades

Que nos tornam únicos e por isso mesmo diferentes

Diante da liberdade, igualdade e fraternidade

Há mil formas de amor

Tantas maneiras de amar

O outro e a si mesmo

Mas nega-se a essência

Julga-se e condena-se

O que não se consegue ser

Que a nossa ancestralidade nos perdoe

Que a posteridade não nos condene

Porque na nossa humanidade

Perdemo-nos no labirinto da humildade

Onde estarão nossos tesouros?

“Nós que aqui estamos por vós esperamos”

E decifrar os intrínsecos becos da alma

Nos confronta e nos afronta

Com a nossa tão cruel e doce dualidade:

E em chamas incandescentes emerge a Fênix etérea

Água límpida que escoa por entre frestas da árida terra

Ambivalências, divergências constituem minhas dualidades:

Um lado imerge nas lembranças, 

Outro incita a levantar a cabeça e seguir sem olhar para trás!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Estigmas


É necessário mudar a frequência...

Acreditar que há tanta vida para ser vivida...

Em todas as pequenas coisas que nos cercam!

Para isso, é preciso apenas abrir a caixa das memórias...

E como Pandora deixar-se invadir pelas emoções mais profundas e remotas:

Sentir o abraço da saudade e se permitir ser quem verdadeiramente somos...

Apesar de nossas falhas, defeitos e deslizes...

Ser intensidade sem correr o risco de ser julgada...

Ser mais Capitu que Amélia...

Mais deusa do que santa...

Mais bruxa que fada...

Mais humana que anjo...

Mais a mulher que ama

Do que é, de fato, amada!

Ser história buscando esperança no futuro.

Ainda que a menina encantada na infância

Ou a adolescente sonhadora que acreditava em conto de fadas...

Já não mais possa ser despertada do sonho de outrora...

A mulher que se olha no espelho vê, nas suas cicatrizes,

As linhas do tempo entalhadas no seu corpo e na sua alma...

Coladas com pó de ouro, tão fino e suave, intercruzadas de poesia...

Cantando, contando e dedilhando estórias e histórias...

Eis meu verso e reverso,

Direito e avesso,

Amago e doce,

Insipido e agridoce...

O ontem dançava com o amanhã e aparecia diante de mim...

Verdade, ali estava, na minha frente, eis o meu presente:

Intensas e imensas dualidades que adormecem a essência

E que despertam cobertas pela poeira das estrelas

Marcas indeléveis da saudade...

Que fantasmagoricamente dançam sob a lua cheia!