A vida se revela diante dos
meus olhos
Descortinam-se brumas que me
assombraram no passado
O olhar triste da menina que
viveu à margem de si mesma
Deu lugar ao da mulher
absorta ante o mar e sua imensidão
Muitas vezes, olha e vê se esvaírem
os cacos de outrora
(Des)pedaços de luz e cor
misturam-se a fragmentos atemporais
Memórias intensas perdidas
num percurso interrompido
Agruras letárgicas
desconstruíram sonhos soprados, como pó ao léu...
Olvidaram essência e corromperem
possibilidades da consciência
Impediram o amadurecimento da
alma esquecida...
Histórias escritas a lápis em
páginas jogadas ao vento
Palavras soçobradas
sussurradas pelo tempo...
Direitos? Deveres? Onde estará
o equilíbrio e a equidade?
Sempre houve deveres demais e
tão poucos direitos...
Às mulheres foi dado o
direito ao silêncio:
Usurparam, por séculos,
nossas palavras...
Vilipendiaram nossos desejos...
Encarceraram nossa liberdade
à sombra da submissão,
Negaram nossos valores e
destruíram nossos talentos,
Obrigando-nos a gostar de clichês
e conveniências...
Era necessário enaltecer a
santidade:
Esconder o corpo e nossa
humanidade,
Numa
gaveta, deveríamos guardar o pensamento...
Conter
os sentidos e deter a mente inquieta...
Não
se podia falar com o coração, apenas ser “bela, recatada e do lar”
Muitas
se rebelaram, condenadas à marginalidade, aos calabouços, à fogueira...
Foram
marcadas, censuradas, amordaçadas: flor de liz com outros contornos...
Silenciaram
nossa voz e cassaram, tantas vezes, nossos direitos:
Muitos
foram os opositores, os torturadores, os carrascos e os capatazes...
Galgamos
degraus nunca alcançados...
Desbravamos
mundos e planos surreais e agora diante da fluidez atual...
Que,
quiçá, representaria uma perspectiva aberta para um novo tempo...
Desmancham,
desfiguram e liquefazem conquistas seculares...
Querem
que voltemos para à nossa gaiola de prata...
Já não
somos mais as mesmas, conhecemos nossa identidade...
Já
não podemos engolir o clamor que ecoa dentro e fora de nós...
Ainda
que estes sejam tempos líquidos,
Que
vemos ora nos congelar diante do medo...
Ora
nos permitir alçar voo em meio aos vapores da esperança...
Juntas,
de mãos dadas, venceremos a dor...
Somos
mais fortes do que imaginamos:
O
que nos fortalece é nossa aparente fragilidade.
A
verdadeira força da mulher está no amor que carrega...
Que
a abriga nos braços e a afaga antes de dormir...
E
que faz emergir das cinzas existenciais suas asas de Fênix...
É
preciso ensinar novamente o mundo a amar
Afinal
o ódio pode e deve ser transmutado...
Só
o amor pode transformar o mundo num lugar melhor...
Cabe
a nós abrir os olhos, tocar com o coração e abraçar nosso futuro!
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